quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

SILÊNCIOS - ainda sobre o medo de existir...

Ainda no seguimento do post anterior e ainda sobre os "silêncios que ignoramos" até um dia (cada vez mais breve) poder chegar o nosso dia, aqui deixamos algo muito oportuno que corre pela net, de autoria de J. Nunes de Almeida (da Ericeira) e que nos foi enviado por um amigo: :

"Um dia bateram-me à porta e anunciaram-me que o governo tinha decidido cortar-me meio subsídio de Natal. Apesar de inconstitucional, compreendi o sacrifício que o Governo me pedia.
Noutro dia bateram à porta do meu pai e anunciaram-lhe que iam cortar meia pensão do Natal. Apesar de considerar que era um roubo, ainda admiti, porque o país estava em estado de emergência.
Depois bateram-me à porta e anunciaram que me iam tirar dois meses de salário e dois meses de pensão ao meu pai. Depois da estupefacção, resignação.
A 7 de Setembro, bateram-me à porta para me anunciar que tiravam 7% do salário para dar 5,75% ao patrão e ficavam com os trocos, em princípio para os cofres da Segurança Social. Desta vez fiquei indignado. Achei que estava a ser roubado e que estavam a transformar os patrões em receptadores do dinheiro roubado. Em reacção, corri para a rua para protestar.
Bateram-me mais uma vez à porta e informaram-me de que o ministro das finanças ia reescalonar as taxas de IRS, de modo a torná-lo mais progressivo.
Imaginando que iam poupar os rendimentos mais baixos e taxar fortemente os mais altos, pensei que o Governo, finalmente, voltava ao trilho da lei.
Mas para surpresa minha, voltaram a bater-me à porta para me ameaçarem com aumentos brutais no IMI. A minha indignação transformou-se em ira e juntei-me ao movimento nacional de resistentes ao pagamento do IMI.
Ainda mal refeito do choque do IMI, bateram-me novamente à porta para me mostrarem nos jornais, em grandes parangonas e cinco colunas, os novos escalões de IRS. Afinal aumentaram as taxas dos rendimentos mais baixos, menos os dos mais altos e não criaram nenhum escalão para os mais ricos. E a progressividade do rei dos impostos diminuiu. A minha raiva subiu de tom e resolvi não mais voltar a votar e estou preparado para qualquer acção revolucionária que apareça.
Ao fim e ao cabo eu, o meu pai e a minha família já não temos nada a perder".
(J. Nunes de Almeida, Ericeira)
 
***
 
O escrito de Nunes de Almeida inspira-se certamente em outros avisos, de autores célebres, adaptados cada qual ao seu tempo. Por exemplo, Maiakovski, poeta russo do início do século XX, escreveu:
 
"Na primeira noite, eles aproximam-se
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E na oportunidade
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada".
Maiakovski (1893-1930
 
 
Bertold Brecht escreveu:

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão a levar-me

Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo".
Bertold Brecht (1898-1956)
 
Em 1933 Martin Niemöller (símbolo da resistência ao nazismo) fez o seguinte poema:
 
"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar?"
Martin Niemöller (1892-1984?)
 
Em 2007 Cláudio Humberto presenteou-nos assim:
"Primeiro eles roubaram-nos os sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os autocarros, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até à morte uma criança: mas não era o meu filho?"
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
 
 
Também Martin Luther King (1929-1968) disse um dia:
"O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. 
- O que mais me preocupa é o silêncio dos bons". 
 

1 comentário:

  1. De um Amigo que passou por estas terras trasmontanas há muito ano, mas que sempre que pode nos revisita, recebemos estas linhas que aqui vos deixamos, com um Grande, Grande Abraço, ao Zé Sequeira, que é cá dos nossos, da nossa Aldeia! Sempre!!
    Aqui fica o seu testemunho:

    «Amigo Zé d’Aldeia,
    Depois de ter lido e reflectido sobre os textos que me enviaste, reconheço que apesar da hora já ter passado, ainda estamos a tempo de nos juntarmos e lutarmos contra o “ silêncio dos bons “.
    Em Trás-os-Montes temos que erguer a nossa voz e dar espírito ao grito de revolta, contra todo o mal que nos querem fazer.
    Temos de dizer “BASTA” ao roubo dos mais primários direitos, como sejam a Saúde, a Educação, o Trabalho, etc.
    Estarei de alma e coração, sempre pronto a lutar pelo Povo Transmontano, nem que tenha de mudar para aí, que é o meu sonho, que penso realizar, logo que me reforme.
    A minha terra não é mais a que me viu nascer, mas sim a que me fez crescer como Homem;
    A minha terra não é mais a que me deformou, mas sim a que me formou como Homem;
    A minha terra não é mais a que habito, mas sim aquela que me faz sentir natural;
    A minha terra não é mais a que gaba de ser terra de trabalho, mas sim aquela onde se vive do trabalho;
    A minha terra é simples como a sua gente; honrada como a sua gente; sofredora como a sua gente; a minha terra é aquela onde se recebem os amigos com um abraço e onde todos comem e bebem o que estiver na mesa;
    A minha terra é apenas e simplesmente – MONCORVO!»

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