sábado, 12 de janeiro de 2013

Que futuro?

Houve tempos em que, sinceramente, acreditei no futuro de regiões como a transmontana. O idílico recanto rural do mundo onde o tempo parece não passar. Onde pouco importa o que dizem as agências de rating, e quem são esses?!, ou o que dizem lá por Bruxelas num edifício meio redondo e espelhado habitado por seres parecidos com pinguins, numa espécie de sub-sistema humano caracterizado pela sua organização e metodologia pouco moral. Mas a moral pouco interessa nos dias que correm e hoje não sei se acredito ou se deva acreditar.
Acreditava que tudo voltaria, mais tarde ou mais cedo, ao seu devido lugar. As pessoas, cansadas dessa sub-espécie de homem-pinguim, regressariam ao mundo rural e diriam não a um ritmo de vida estúpido. Numa espécie de retorno às raízes da identidade europeia abandonariam o deus do euro e mostrariam ao sacerdote mor pinguim Gaspar e seus companheiros que há vida para além das finanças e economia do país. E que o deus euro não passa de uma falsa promessa, recriada à imagem de outras nascidas há milhares de anos com os primeiros homens. Até por uma razão de inteligência. Há descontentamento, há recursos naturais a preservar, há a questão da felicidade e do sentido da vida. Para quê todo esse sacrifício se estivermos todos mortos? A possibilidade de mudança é real, está dentro de cada um de nós, basta para tal assumir, com todo o esforço, sacrifício e cansaço que isso traz.
Nos últimos tempos tinham surgido teorias do fim do mundo, as mais recentes, (se outras não houver entretanto), baseavam-se, supostamente, na civilização maia. Era expectável, ainda que não queiramos admitir, que algo acontecesse e fosse catalisador essencial para uma mudança profunda que nos pudesse livrar destes tempos conturbados.
Nada aconteceu e continuou tudo igual, com a diferença que o tempo passa inexoravelmente por nós. E o idílico mundo rural perdeu a gente que o caracterizava, uma espécie de aparência saudável que vivia um pouco à medida do que chamaria de tempo natural - levantavam-se quando o sol nascia, recolhiam aos primeiros sinais de escuridão, numa harmonia com o seu próprio sistema biológico. Cultivavam as terras, preservavam a natureza, respeitavam os animais e tinham como prioridade a educação.
Na verdade acho que sonhei tudo isso. Porque todo o mundo vivia em paz e pouco importavam os jornais e o que acontecia lá nas américas, onde é tudo meio doido. A vida era muito mais interessante e harmoniosa, e acho que isso só vi em filmes.
Um dia li, algures, uma teoria interessante sobre o futuro. Há várias possibilidades para o futuro e para que determinadas coisas aconteçam ou não. Estamos continuamente a tomar decisões e baseamos essas decisões naquilo que conhecemos ou esperamos do futuro, até porque o passado já foi e até ver é inalterável. Tudo o que se passa à nossa volta leva-nos a criar expectativas, ainda que não tenhamos consciência disso,e a tomar decisões com base nisso. Por vezes até dizemos, já sabia que isto ia acontecer. Já sabíamos o que ia acontecer no futuro, mas não fizemos nada para o evitar. Assim, se já sabemos para onde nos pode levar o caminho que estamos a seguir, em termos sociais, políticos e económicos, e na medida em que, como indivíduos, isso nos afecta, porque não fazemos diferente?
Há quem defenda revoluções, há quem espere um acontecimento como aquele que estaria previsto pelos maias, ou outros, e que no fundo todos sabemos que não vão acontecer, embora reste a esperança ou a fé, nalguns casos...dizem que a fé salva e salvará até. A teoria que li, para continuar este pensamento desorganizado, diz então que se tivermos uma atitude e pensamento positivo, se acreditarmos num futuro diferente, se conseguirmos que muitos pensem no mesmo sentido, poderemos ser alavanca de mudança e concretizar um futuro diferente. Dizem mesmo que se 200 pessoas entrarem num avião com a convicção que ele não levanta voo, ele não levantará. Chamam-lhe de energia.
Não sei até que ponto será treta. Gostava que fosse verdade. O autor do livro onde li esta teoria criou mesmo um site com o nome, em francês, A árvore das possibilidades, onde cada pessoa pode deixar o seu contributo, por área, daquilo que deseja que seja um cenário de futuro. Esperança ou fé? Acreditar ou cair no marasmo? Agir ou deixar acontecer?

4 comentários:

  1. Outro excelente post! há aqui muito para reflectir e discutir. Não sei se isso da "energia" será mesmo assim, e se está tão-pouco nas nossas mãos a possibilidade de alterar ou modificar alguma coisa no curso de acontecimentos mais globais, ou "nacionais" que sejam... Acho que quem decide tudo isto são "eles", pinguins de Bruxelas, ou ou tais que participam nos famosos encontros de Davos, e, cada vez menos, os seus agentes locais (meros executores tipo lacaios, como o nosso des-governo situado na Lísbia). Claro que podem estar nas nossas mãos apenas decisões individuais, como essa de emigrar/não-emigrar, regressar à terra/origens, ou optar por se ser homeless a dormir em cartões e vasculhar os caixotes do lixo. Mas até essas decisões estão condicionadas pelo problema mais geral criado a montante. E se a Dívida é também resultado do somatório de dívidas individuais, há que lembrar que houve, igualmente, uma orientação nesse sentido dada pelos bancos, qd nos acenavam com os créditos fáceis para tudo e mais alguma coisa.
    Quanto ao jogo da Árvore das Possibilidades é um exercício interessante, mas não passa disso (uma espécie de jogo do monopólio dos novos tempos). Por mim acho q já entrámos numa nova Idade Média, e a dúvida é se vai durar 20, 50, 100 ou 1000 anos, como a outra. Claro q esta Idade Média será apenas na zona de sombra do Ocidente, pois a China, para já, está no seu Renascimento, tal como os chamados "emergentes". Será este o futuro do mundo da "Aldeia Global": zonas de sombra coexistindo com zonas e maior intensidade luminosa, que depois poderão ensombrar-se e outros focos conhecerem momentos de luz? E se entretanto houver um "apagão" económico geral? uma espécie de Idade das Trevas em que teremos de retomar as actividades ligadas à subsistência (sector primário)? Bem, aí talvez Trás-os-Montes e todo o mundo rural volte a ter futuro...

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  2. Resta-nos então torcer para que um cataclismo possa trazer novamente o futuro...

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    1. Pois é, C., mas a grande questão é saber se "eles", chame-se-lhes UE, FMI, USA ou China, através dos seus braços armados (sejam eles ASAE, ou Fisco, ou outra coisa), nos permitem, sequer, plantar uma couve... É que assim já não tínhamos de comprar nas grandes superfícies dos grandes "capitas" ou de consórcios empresariais agrícolas sem nome e sem rosto (como os dos mercados financeiros) - os novos gangsters a que vamos estar, cada vez mais, entregues...

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  3. É verdade Manuel...Há sempre a esperança...

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