sábado, 12 de janeiro de 2013

A mala channel

Não tenho por hábito ler e ver a imprensa diária. A imprensa diária é cara e não acrescenta nada de novo. Pés de microfone, amplificadores de bits sonoros dos donos do poder. Por hábito, e sou de péssimos hábitos, vejo o telejornal à hora da refeição, é como um alarme para me alimentar e, ao mesmo tempo, serve-me de recreação. Isto porque, na minha opinião, que vale o que vale, mas tenho direito a ela, os jornais televisivos são, cada vez mais, programas recreativos, coisa para entreter o povo enquanto come batatas com sabor a bacalhau. Por falar nisso, neste momento, há uma televisão privada a exibir como "reportagem" um senhor chamado Emanuel, das áreas do espectáculo, a fazer o jantar. Uma coisa meia snobe, coisas que ninguém faz em casa e que não deve ser grande coisa.
Espantou-me mais ainda uma "entrevista" que apresentadora/jornalista acabou de fazer a uma jovem portuguesa de 25 anos que trabalha como "blogger" de moda e que, a convite da Samsung, fez um vídeo com os seus desejos e aspirações para 2013. Aquilo parece que gerou muita polémica porque a dita jovem, inconsciente como todos os jovens, disse que tinha um desejo materialista para 2013 que era o de juntar dinheiro para comprar uma mala clássica da Channel. Isto aconteceu no mundo virtual da internet e gerou uma onda de violência virtual contra a moça. Às tantas a apresentadora/jornalista pergunta à jovem se esta tem consciência do estado do país e vai mais longe afirmando "certamente é ajudada pelos seus pais".
Por acaso, diz-nos a jovem, os pais não a podem ajudar e ela própria é uma vítima da crise. É uma vítima da crise? Como? Questiona a apresentadora/jornalista.
A mim aquilo deu-me cá uma azia dos diabos porque me pareceu nitidamente um ataque e tive pena da jovem rapariga. Ter pena de alguém é mau, mas tive. Então agora as pessoas não podem ter aspirações fúteis porque o país está em crise e todos os dias há portugueses que são obrigados a emigrar? A mim choca-me mais que a crise em que o país está mergulhado e o sofrimento pelo qual passam os portugueses não afecte moralmente os nossos políticos que, pasme-se!, vão para a Assembleia da República dormir, numa falta de vergonha inqualificável, pois sabem que estão a ser filmados e nem isso os impele a, ao menos, ao menos!, manterem a postura!
Agora que a moça queira ter dinheiro para uma mala channel a mim não me escandaliza nada! Tivera eu dinheiro para isso, certamente teria outro tanto para o resto!
Isto leva-me a questionar o estado a que o jornalismo chegou e como tenho razão em não ler jornais e optar por ver os simpsons durante a hora do jantar. É que assim poupo na conta da farmácia e nos kompensans!

2 comentários:

  1. olá Carla!
    As minhas felicitações por este naco de prosa.
    Na verdade a TV tornou-se um mero "entertainment" a que nem os telejornais escapam. E a coisa não é de hoje. Quando apareceram os canais privados, há mais de 20 anos, pensava-se (ou melhor, os ingénuos como eu pensaram) que a concorrência iria fazer subir a qualidade. Afinal, parece q competiram para se ver qual era o mais rasca: telenovelas+telenovelas, big's-brotheres e casas dos segredos, etc. O único canal que vou vendo é a RTP-2, e a verdade é que no país pimba o score de audiência desse canal é residual... Por isso querem acabar com ele e com o que resta de serviço público, para apimbalhar e embrutecer ainda mais o nosso povinho.
    Quanto à mecinha da mala Channel, acho q a jornalista lhe podia ter perguntado antes pq não preferia antes uma mala da Vuitton?

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