sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Tempos de "causas"...

O sr. José António Saraiva, personagem que foi director do pasquim "Expesso", antes de inventar o pasquim "Sol", às vezes bate-as certas. Não sendo especial  apreciador da criatura nem leitor do dito "Sol", todavia alguém nos fez chegar esta prosa sua que não resistimos a postar na praça cá da aldeia, pelo que contem de acertado.
Na verdade, vivemos o tempo das "causas", essa grande bengala de uma certa "gauche" urbana pseudo-"bem pensante" que anda a par do famoso "politicamente correcto".
E, para pensar, aqui vos fica:



Tempo de ‘causas’
Jose Antonio Saraiva | SOL - 2019.11.23
O que estas pessoas não percebem é que estas ‘causas’ vão todas no mesmo sentido: a desresponsabilização individual. Os migrantes, os toxicodependentes, as mulheres que abandonam ou matam os filhos, são todos vítimas, não são responsáveis por nada. No limite, não há responsáveis – porque os próprios criminosos comuns também não têm culpa de o ser, pois nasceram na ‘pele’ errada ou a sociedade atirou-os para a marginalidade e o crime.
Um leitor, José Alberto Allen Lima, enviou-me por estes dias um curioso e-mail sobre uma apresentação a que assistiu, onde se defendia a tese de que cada época tem a sua ‘mania’.
Resumo a ideia, com algumas alterações.
Nos anos 50, a afirmação social fazia-se muito através do ‘emprego’ – e havia uma profissão em ascensão, a dos empregados bancários, gozando de boa situação financeira, vários privilégios (como uma cooperativa exclusiva) e um certo prestígio social.
Nos anos 80, a diferenciação fazia-se pelo ‘local’ de habitação. Viver no Restelo ou no Areeiro, por exemplo, era sinal de estatuto. Mas viver na Amadora ou na Margem Sul tinha o sentido oposto.
No ano 2000, as pessoas passaram a distinguir-se pelo ‘consumo’, e surgiu a obsessão pela roupa de marca. Todos, a começar pelas crianças, queriam usar roupa de marca. A coisa começou a declinar com a proliferação das contrafações: as falsificações eram tantas, que a maior parte da roupa de marca era falsa e o seu uso passou a ser sinal de ‘parolice’.
Em 2018 entrámos no tempo das ‘causas’.  As pessoas distinguem-se por terem ‘causas’. Causas ideológicas e causas ambientais.
Tudo hoje se transforma em ‘causa’. É a causa dos sem-abrigo, a causa dos toxicodependentes, a causa dos transexuais, a causa do aborto, a causa da eutanásia, a causa dos migrantes, a causa do chumbo escolar, etc.
Os sem-abrigo, os toxicodependentes, as mulheres que querem abortar, os migrantes são vistos como vítimas da sociedade – pelo que a sociedade tem a obrigação de as ajudar.
Aos sem-abrigo é preciso oferecer casas e emprego; aos toxicodependentes é preciso fornecer seringas e disponibilizar salas de chuto; aos que nasceram no corpo errado a lei tem de permitir a mudança de sexo cada vez mais cedo e o Estado tem de pagar a operação; às mulheres que querem abortar o Estado tem de oferecer condições condignas; aos doentes que querem morrer é preciso proporcionar uma morte suave; aos migrantes que são apanhados no mar é preciso dar acolhimento e condições de vida; às crianças que chumbam na escola e ficam traumatizadas é preciso deitar a mão e acabar com os chumbos.
E depois são as causas individuais, como a causa de Vuvu Grace, a causa de Joacine Katar Moreira, até a causa da mulher que deitou o bebé no lixo.
Algumas destas causas parecem ‘boas causas’. E muita gente bem-intencionada torna-se sua apoiante ou mesmo militante.
O que estas pessoas não percebem é que estas ‘causas’ vão todas no mesmo sentido: a desresponsabilização individual. Os migrantes, os toxicodependentes, as mulheres que abandonam ou matam os filhos, são todos vítimas, não são responsáveis por nada. No limite, não há responsáveis – porque os próprios criminosos comuns também não têm culpa de o ser, pois nasceram na ‘pele’ errada ou a sociedade atirou-os para a marginalidade e o crime.
E a par destas causas ideológicas vêm as causas ambientais. Que também têm tendência a tornar-se ideológicas. Porquê? Sobretudo porque Trump e os seus mentores contestam algumas das suas premissas e os EUA abandonaram o Acordo de Paris.
E também porque Bolsonaro ‘deixou arder’ a Amazónia.
Mas, ao mesmo tempo que os militantes das causas ambientais participam em manifestações contra o ‘desleixo’ climático, ou a favor da Amazónia, ou contra Trump, colaboram muito mais ativamente do que as gerações anteriores na destruição do planeta.
Porquê?
Porque os jovens de hoje poluem dez vezes mais do que os jovens de há 20 ou 30 anos. Além de consumirem muito mais, viajam muito mais. Não se contentam com umas férias na Costa da Caparica ou mesmo na Ericeira, em Sesimbra, na Nazaré ou em Moledo – fazem férias em destinos longínquos e exóticos: o Bali, o Vietname, o Cambodja, as Maldivas, a Austrália. Muitos jovens, mesmo de estratos baixos, procuram estes destinos – sem se preocuparem com os custos ambientais de viagens de avião para longas distâncias, com descolagens, aterragens e gastos tremendos de combustível.
Esses jovens ficam escandalizados se um fulano deitar no lixo uma garrafa de plástico em vez de a deitar no respetivo contentor. Mas depois consomem brutalmente e viajam loucamente, com os correspondentes custos para o ambiente.
Vivemos numa época cheia de mitos, fantasias e contradições.
Mas ai de quem os denuncie.
Porque os novos inquisidores estão atentos, apontam o dedo aos heterodoxos, aos politicamente incorretos, aos que revelam as contradições, as confusões de valores. Quais bispos fundamentalistas de um novo credo, perseguem os infiéis, os que não seguem a doutrina. É assim, em todas as épocas, com todos os detentores da ‘verdade’.
E são persistentes. Invadem as redações dos jornais e das TVs, batem-se pelas suas ideias. Mesmo comentadores encartados, com medo deles, evitam dizer abertamente o que pensam.
E vão ganhando posições. Veja-se o que Bloco de Esquerda já ‘ganhou’ desde que surgiu. E atrás de uma causa vem sempre outra, para manter a pressão.
Claro que chegará a altura em que uma gota fará transbordar o copo.
Vejo muita gente revoltada, indignada, inconformada. O fascismo surgiu como e porquê? Como reação ao comunismo e às ideias internacionalistas da revolução russa.
E esta onda de extrema-direita que cresce na Europa é devida a quê? É uma reação contra a ofensiva da extrema-esquerda nos últimos tempos, com a política de ‘causas’.
Isto não vai acabar bem.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Chinesices... e o mundo de cócoras!

Mão amiga fez-nos chegar esta prosa do "Observador", pasquim digital que nem sempre as dá certas, mas que, neste caso, pela pena de um irónico Tiago Dores, achamos que é "na mouche".

Como é versão "Premium", a que nem todos têm acesso, aqui vos fica:


«Da China com Amor /premium
Tiago Dores

Os Estados Unidos encontram-se, de facto, mergulhados numa profunda crise. Sabemos que a coisa está mesmo feia quando cabe a um indivíduo com o currículo de Donald Trump ser a reserva moral da nação.
16 oct 2019

O título original da película de 1963 protagonizada pelo estiloso James Bond era, na verdade, From Russia with Love e não From China with Love. Mas se o nome original em inglês não é o mais apropriado para este caso, já a versão portuguesa é arrepiantemente sugestiva: Ordem para Matar. Pois é, além de toda a sorte de bugigangas a tuta-e-meia, por estes dias o que vem mais da China são sinais claros do tipo de afecto com que o estado chinês pretende acarinhar o resto do mundo. De início parece um abraço mesmo muito fraterno; depois o aperto começa a ficar ligeiramente desconfortável; quando dermos por isso, estamos a acordar de um mata-leão já como funcionários da linha de montagem de uma fábrica da Huawei em Pegões, com uma carga horária de 170 horas semanais e direito a um feriado por ano, a 22 de Dezembro, para festejar o dia em que, nos saudosos idos de 2011, o estado português ofereceu ao seu congénere chinês a EDP.
Vem esta muito gira distopia a propósito da polémica em curso na liga norte-americana de basquetebol, a NBA, depois de um dirigente dos Houston Rockets ter tido o desplante de enviar — imaginem só — um tweet pró-democracia de apoio à luta pela liberdade em Hong Kong. “Fight For Freedom, Stand With Hong Kong” foi o dislate tweetado e prontamente apagado. Ainda assim tarde de mais, pois a ira do governo chinês e das empresas chinesas (passe a redundância) já se tinha feito sentir, sob a forma de corte imediato de vários patrocínios à NBA.
Perante isto, como reagiram jogadores, treinadores e dirigentes da NBA? Dou-vos três hipóteses. Hipótese A: disseram “Levem daqui o vosso dinheiro sujo, comunas d’um raio! Não precisamos de vocês para nada, pá!” Hipótese B: mandaram o governo chinês dar uma volta, enquanto afirmavam orgulhosamente que a América é a terra da liberdade. Hipótese C: reagiram de forma tão mariquinhas que mais pareciam umas autênticas meninas. E a reposta certa é: nenhuma das hipóteses acima. As duas primeiras não podiam ser, porque a NBA jamais correria o risco de ferir a susceptibilidade de um governo totalitário que lhe põe bom dinheirinho nos bolsos. A terceira podia perfeitamente ser, mas a NBA jamais o admitira para não correr o risco de ferir as susceptibilidades da turba do politicamente correcto.
A reacção da NBA chegou pela voz de, entre outros, um dos seus jogadores mais famosos, LeBron James. LeBron garantiu não só que o dirigente dos Houston Rockets está mal informado sobre este tema, como também que muitas coisas negativas podem advir da liberdade de expressão. Confirma-se, portanto, não ser à toa que se costuma dizer “Na América, tudo é possível”. Pelos vistos, até é possível latagões com mais de dois metros de altura terem, afinal, o porte moral de um vulgar roedor doméstico. Aliás, em honra deste fã indefectível, a República Popular da China já alterou o seu calendário e tudo. A 25 de Janeiro de 2020, em vez de se celebrar o início do Ano do Rato, comemorar-se-á a entrada no Ano do LeBron James.
A propósito desta controvérsia, Donald Trump veio acusar — e bem — vários elementos da NBA de se terem acobardado e de serem coniventes com a China relativamente a Hong Kong. E assim se percebe que os Estados Unidos se encontram, de facto, mergulhados numa profunda crise. Sabemos que a coisa está mesmo feia quando cabe a um indivíduo com o currículo de Donald Trump ser a reserva moral da nação.»


sábado, 5 de outubro de 2019

Borges e Pedro Salvadores - algo que estamos a pontos de compreender...


Revisitando  J. L. Borges, escritor universal, mais do que argentino de origens tugas, tropecei num dos seus contos fantásticos, sempre actuais no tempo e no espaço.
Tal como diz o autor no final desta história, Pedro Salvadores é um símbolo de algo que estamos a ponto de compreender...


- Aqui vos fica:

Jorge Luis Borges: Pedro Salvadores


A Juan Murchison


Quiero dejar escrito, acaso por primera vez, uno de los hechos más raros y más tristes de nuestra historia. Intervenir lo menos posible en su narración, prescindir de adiciones pintorescas y de conjeturas aventuradas es, me parece, la mejor manera de hacerlo. Un hombre, una mujer y la vasta sombra de un dictador son los tres personajes. El hombre se llamó Pedro Salvadores; mi abuelo Acevedo lo vio, días o semanas después de la batalla de Caseros. Pedro Salvadores, tal vez, no difería del común de la gente, pero su destino y los años lo hicieron único. Sería un señor como tantos otros de su época. Poseería (nos cabe suponer) un establecimiento de campo y era unitario. El apellido de su mujer era Planes; los dos vivían en la calle Suipacha, no lejos de la esquina del Temple. La casa en que los hechos ocurrieron sería igual a las otras: la puerta de calle, el zaguán, la puerta cancel, las habitaciones, la hondura de los patios. Una noche, hacia 1842, oyeron el creciente y sordo rumor de los cascos de los caballos en la calle de tierra y los vivas y mueras de los jinetes. La mazorca, esta vez, no pasó de largo. Al griterío sucedieron los repetidos golpes, mientras los hombres derribaban la puerta, Salvadores pudo correr la mesa del comedor, alzar la alfombra y ocultarse en el sótano. La mujer puso la mesa en su lugar. La mazorca irrumpió; venían a llevárselo a Salvadores. La mujer declaró que éste había huido a Montevideo. No le creyeron; la azotaron, rompieron toda la vajilla celeste, registraron la casa, pero no se les ocurrió levantar la alfombra. A la medianoche se fueron, no sin haber jurado volver.
Aquí principia verdaderamente la historia de Pedro Salvadores. Vivió nueve años en el sótano. Por más que nos digamos que los años están hechos de días y los días de horas y que nueve años es un término abstracto y una suma imposible, esa historia es atroz. Sospecho que en la sombra que sus ojos aprendieron a descifrar, no pensaba en nada, ni siquiera en su odio ni en su peligro. Estaba ahí, en el sótano. Algunos ecos de aquel mundo que le estaba vedado le llegarían desde arriba: los pasos habituales de su mujer, el golpe del brocal y del balde, la pesada lluvia en el patio. Cada día, por lo demás, podía ser el último.
La mujer fue despidiendo a la servidumbre, que era capaz de delatarlos. Dijo a todos los suyos que Salvadores estaba en la Banda Oriental. Ganó el pan de los dos cosiendo para el ejército. En el decurso de los años tuvo dos hijos; la familia la repudió, atribuyéndolos a un amante. Después de la caída del tirano, le pedirían perdón de rodillas.
¿Qué fue, quién fue, Pedro Salvadores? ¿Lo encarcelaron el terror, el amor, la invisible presencia de Buenos Aires y, finalmente, la costumbre? Para que no la dejara sola, su mujer le daría inciertas noticias de conspiraciones y de victorias. Acaso era cobarde y la mujer lealmente le ocultó que ella lo sabía. Lo imagino en su sótano, tal vez sin un candil, sin un libro. La sombra lo hundiría en el sueño. Soñaría, al principio, con la noche tremenda en que el acero buscaba la garganta, con las calles abiertas, con la llanura. Al cabo de los años no podría huir y soñaría con el sótano. Sería, al principio, un acosado, un amenazado; después no lo sabremos nunca, un animal tranquilo en su madriguera o una suerte de oscura divinidad.
Todo esto hasta aquel día del verano de 1852 en que Rosas huyó. Fue entonces cuando el hombre secreto salió a la luz del día; mi abuelo habló con él. Fofo y obeso, estaba del color de la cera y no hablaba en voz alta. Nunca le devolvieron los campos que le habían sido confiscados; creo que murió en la miseria. Como todas las cosas, el destino de Pedro Salvadores nos parece un símbolo de algo que estamos a punto de comprender.


En Elogio de la sombra (1969)
Sobre este texto: José Emilio Pacheco: Dos momentos y una posdata


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Que venha o Fogo Divino!


Ainda que uma ideia destas possa parecer parva, vinda de onde vem (um cançonetas que arranjou o nome artístico de "Adolfo Lúxuria" e, como se não bastasse, "Canibal"), com um grupelho rockeiro que dá por nome de "Mão morta", no fundo, muito no fundo, até porque isto parece que já bateu no fundo, se calhar não é má ideia:

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/25-set-2019/interior/mao-morta-querem-uma-morte-indolor-e-rapida-para-os-habitantes-da-terra--11334320.html?target=conteudo_fechado&utm_term=Metade+dos+medicos+do+SNS+tem+mais+de+50+anos&utm_campaign=Editorial&utm_source=e-goi&utm_medium=email

- Na verdade, se todos temos de morrer, um dia... como diz o povo, mal de muitos, gozo é!...
O Planeta agradecia e o Universo continuava na mesma...

- A quem não agradaria a ideia: aos crápulas, aos patifes, aos fdp's que, porque o são, estão bem na vida e em perspectiva de estarem cada vez melhor e durarem eternamente.

- Aos que já não têm nada a perder, só pelo gozo de saber que esses ditos cujos também iam com o c*******, tal acontecimento só podia ser uma dádiva do Céu.

- Que venha então esse bíblico Fogo Divino, e quanto antes!!

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Malefícios da Globalização: manipulações Facebookianas

Mão amiga fez-nos chegar mais este aviso:

Este vídeo apresenta uma palestra de Carole Cadwalladr, uma jornalista de investigação britânica. Expõe o papel que o Facebook e as redes sociais tiveram na utilização das novas tecnologias para levar o Reino Unido a votar Sim para sair da União Europeia.
A palestra desta jornalista é esclarecedora sobre o crime organizado e oculto que manipula as grandes decisões.

terça-feira, 11 de junho de 2019

PAN...leirices!!!

                                                           (Clicar para AMPLIAR)

Esta só me chegou bem depois das eleições para o PE... (pelo que já não altera o resultado eleitoral).
Em todo o caso, suspeito que deve ser mais uma dessas "fake news" contra o partideco coqueluche dos animaizinhos de peluche. - Eu só acredito mesmo quando vir a factura descriminada das iguarias consumidas pelos bravos militantes do PAN, pois que o facto de a malta ir a um restaurante com esses menús, isso não quer dizer nada... Em algum lado o pessoal tem de pastar, e decerto que o "Calça Curta" também deve servir umas belas saladinhas de beldroegas e tomates...

Assim como assim, um dia destes vou por lá almoçar e tentar saber qual foi o re-pasto destes herbívoros urbanóides ;-)

sábado, 1 de junho de 2019

O bode Berardo



O Joe - caricatura de André Carrilho, publicada na capa do DN, 2019.05.18


Descontando a parte em que apenas se malha na rapaziada súcia, deixando de fora outros que tais do lado do neoliberalismo caseiro, a saber, laranjolas e cdéssezinhos, aproveito para recomendar um livro de poesia de um certo Henrique de Campos, Rio da Morte, na parte em que se alude à história de Job e à questão do bode expiatório. Tornou-se-me patente e óbvio que parte dos apupos ao "patusco" Joe, eram uma espécie de exconjuro do... bode! - são os tais momentos de catarse colectiva, sem que o sistema algum dia se chegue a redimir, porque não há remissão possível para o que é atávico. Dito isto, aqui vos fica, o que mão amiga nos fez chegar:



Assunto:  O Bode...  

Nenhum dos actuais partidos parlamentares está interessado em lutar contra a corrupção e outros «bodes» porque levaria à destruição do partido, desaparecendo a maior parte dos grandes porque poucos haverá inocentes E quem tem telhados de vidro... Qual será a solução???

O Bode...
No meio desta podridão que caracteriza a política portuguesa convém lembrar o que dizem os antropólogos, que afirmam que nas sociedades ditas primitivas, o “bode expiatório” era uma figura veneranda.
Pelo sacrifício do “bode”, a tribo podia exorcizar todos os seus demónios e inaugurar um novo ciclo de vida.
 Portugal é uma dessas tribos e Berardo é o seu “bode expiatório”.
Em rigor, nada que o “Comendador” disse ou fez no Parlamento, não é novidade.
Todos os parlamentares e membros do governo sabiam como se tinha formado a organização maçónica corrupta e mafiosa.
A novidade está na fúria com que um regime inteiro – o mesmo regime que produziu Berardo e outros idênticos, que rastejou aos seus pés, lhe ofereceu o dinheiro em créditos ruinosos e até o enfeitou com medalhas –  agora se atirou ao homem como se ele transportasse todos os demónios e pecados da tribo.
O raciocínio é exemplar...
Queimando e sacrificando Berardo, o Bode, nesta teia, salvam-se os selvagens que há uma década atrás lhe deu centenas de milhões de euros sem ele os ter pedido.
Mas a farsa não se resume só a Joe Berardo.
Várias outras figuras pardas do sistema corrupto socialista prestaram-se à destruição de milhares de milhões de euros num sistema de associação criminosa governamental, que levou à destruição de bancos e grandes empresas:
Manuel Fino, da Soares da Costa Construções com centenas de milhões.
Nuno Vasconcelos, da Ongoing, organização pirata que nunca se soube o que fazia mas era apadrinhada pelos socialistas com créditos de 800 milhões.
Empresa espanhola “La Seda”, cujo vice administrador era Fernando Freire de Sousa, marido da socialista Elisa Ferreira, com 900 milhões.
Luís Filipe Vieira do Benfica com as suas empresas falidas com 1.000 milhões.
As autoestradas Ascendi, do Grupo Mota-Engil, cujo administrador era o socialista Jorge Coelho, com centenas de milhões.
E a cereja no topo do bolo nesta teia criminosa, Eduardo Paz Ferreira, marido da actual Ministra da Justiça, que era na altura o responsável pelo Departamento de Inspecção e Auditoria da CGD, nunca soube, nunca viu, nunca ouviu.
Todo o Governo da altura (António Costa, Santos Silva, Vieira da Silva e restante companhia) e a Comunicação Social sabia o que estava a acontecer, mas permaneceram silenciosos e em cumplicidade assustadora.
Para que esta dança seja perfeita, só falta mesmo que José Sócrates apareça por aí para se confessar “chocado” com as maneiras do seu peão “Joe”.
Não desculpando o “Bode”, este é simplesmente e apenas um peão parvito e imbecilizado, que foi usado pelos maçónicos socialistas e que, entre 2005 e 2010, escreveram na História portuguesa, um dos momentos mais tenebrosos, negros e corruptos.
Quando não há vergonha nem memória, assistimos a cenas cómicas ou a tragicomédias farsantes...

sábado, 30 de março de 2019

"Papel macio p'ró cu e roupa boa pr'á gente"

Mão amiga fez-nos chegar este escrito, que talvez já ande pela net há um par de anos, mas há coisas que não perdem actualidade, antes só se aprofunda a sua acuidade, com o espalhar de novas formas de miséria humana.

Assim, na "esteira" do velho Soeiro Pereira Gomes, aqui vos fica esta prosa dedicada a outros meninos que nunca foram meninos... Enquanto os meninos mimadinhos de hoje têm cada vez mais tudo facilitado e sempre de cu para a porta...


Do Mural de Lourdes dos Anjos

Quando os meninos  me pediam "papel macio pró cu e roupa boa prá gente"…
Um dos textos que mais me custou a  escrever e por isso tem mais
lágrimas do que palavras.


Estávamos ainda no século XX, no longínquo ano de 1968, quando a vida
me deu oportunidade de cumprir um dos meus sonhos: ser professora. Dei
comigo numa escola masculina, ali muito pertinho do rio Douro, na
primeira freguesia de Penafiel, no lugar de Rio Mau.
Era tão longe, da minha rua do Bonfim, não podia vir para casa no
final do dia, não tinha a minha gente, e eu era uma menina da cidade
com algum mimo, muitas rosas na alma, e tinha apenas 18 anos.

Nada me fazia pensar que tanta esperança e tanta alegria me trariam
tanta vida e tantas lágrimas.
 Os meninos afinal eram homens com calos nas mãos, pés descalços e um
pedaço de broa no bolso das calças remendadas.
As meninas eram mulheres de tranças feitas ao domingo de manhã antes
da missa, de saias de cotim, braços cansados de dar colo aos irmãos
mais novos, e de rodilha na cabeça para aguentar o peso dos alguidares
de roupa para lavar no rio ou dos molhos de erva para alimentar o
gado.

As mães eram mulheres sobretudo boas parideiras, gente que trabalhava
de sol a sol e esperava a sorte de alguém levar uma das suas cachopas
para a cidade, “servir” para casa de gente de posses.
Seria menos uma malga de caldo para encher e uns tostões que chegavam
pelo correio, no final de cada mês.

Os homens eram mineiros no Pejão, traziam horas de sono por cumprir,
serviam-se da mulher pela madrugada, mesmo que fosse no aido das vacas
enquanto os filhos dormiam (quatro em cada enxerga), cultivavam as
leiras que tinham ao redor da casa, ou perto do rio e nos dias de
invernia, entre um jogo de sueca e duas malgas de vinho que na venda
fiavam até receberem a féria, conseguiam dar ao seu dia mais que as 24
horas que realmente ele tinha. Filhos, eram coisas de mães e quando
corriam pró torto era o cinto das calças do pai que “inducava” … e a
mãe também “provava da isca” para não dizer amém com eles…

E os filhos faziam-se gente.
E era uma festa quando começavam a ler as letras gordas dum velho
pedaço de jornal pendurado no prego da cagadeira da casa…o menino já
lia.. ai que ele é tão fino… se deus quiser, vai ser um homem e ter
uma profissão!

Ai como a escola e a professora eram coisas tão importantes!
A escola que ia até aos mais remotos lugares, ao encontro das crianças
que afinal até nem tinham nascido crianças…eram apenas mais braços
para trabalhar, mais futuro para os pais em fim de vida, mais gente
para desbravar os socalcos do Douro, mais vozes para cantar em tempo
de colheitas.
E os meninos ensinaram-me a ser gente, a lutar por eles, a amanhar a
lampreia, a grelhar o sável nas pedras do rio aquecidas pelas brasas,
a rir de pequenas coisas, a sonhar com um país diferente, a saber que
ler e escrever e pensar não é coisa para ricos mas para todos, para
todos.

E por lá vivi e cresci durante três anos e por lá fiz amigos e por lá
semeei algumas flores que trazia na alma inquieta de jovem que julgava
conseguir fazer um mundo menos desigual.
E foi o padre António Augusto Vasconcelos, de Rio Mau, Sebolido,
Penafiel, que me foi casar ao mosteiro de Leça do Balio no ano de 1971
e aí me entregou um envelope com mil oitocentos e três escudos (o meu
ordenado mensal) como prenda de casamento conseguida entre todos os
meus alunos mais as colegas da escola mais as senhoras da Casa do
Outeiro. E foi na igreja de Sebolido que batizou o meu filho, no dia 1
de janeiro de 1973.

E é deste povo que tenho saudades. O povo que lutou sem armas, que
voou sem asas, que escreveu páginas de Portugal sem saber as letras do
seu próprio nome.
Hoje, o povo navega na internet, sabe a marca e os preços dos carros
topo de gama, sabe os nomes de quem nos saqueia a vida e suga o
sangue, mas é neles que vai votando enquanto continua á espera de um
milagre de Fátima, duns trocos que os velhos guardaram, do dia das
eleições para ir passear e comer fora, de saber se o jogador de
futebol se zangou com a gaja que tinha comprado com os seus milhões, e
é claro de ver um filmezito escaldante para aquecer a sua relação que
estava há tempos no congelador.

As escolas fecharam-se, os professores foram quase todos trocados por
gente que vende aulas aqui, ali e acolá, os papás são todos doutores
da mula russa e sabem todas as técnicas de educação mas deseducam os
seus génios, os pequenos /grandes ditadores que até são seus filhinhos
e o país tornou-se um fabuloso manicómio onde os finórios são felizes
e os burros comem palha e esperam pelo dia do abate.

Sabem que mais?!
Ainda vejo as letras enormes escritas no quadro preto da escola
masculina, ao final da tarde de sábado, por moços de doze e treze anos
com estes dois pedidos que me faziam: “Professora vá devagar que a
estrada é ruim, e não se esqueça de trazer na segunda-feira, papel
macio pró cu e roupa boa dos seus sobrinhos prá gente”.
Esta gente foi a gente com quem me fiz gente.

Hoje, não há gente… é tudo transgénico .
O povo adormeceu à sombra do muro da eira que construiu mas os
senhores do mundo, estão acordadinhos e atentos, escarrapachados nos
seus solários “badalhocamente” ricos e extraordinariamente felizes
porque inventaram máquinas e reinventaram novos escravos.
 Dizem que já estamos no século XXI...”

domingo, 10 de março de 2019

Putedo, Putaria & Cª., Ldª.

Bem, já em tempos o "Grande Educador da Classe Operária", recentemente falecido, havia proclamado que isto cá pela Aldeia Tuga "é tudo um putedo"!

E nessa boa e certeira  linha de análise, aqui vos fica esta definição de um conceito afim:

O QUE É UMA PUTARIA …
 
1.    PUTARIA é comparar a Reforma de um Deputado com a de uma Viúva [já foi há uns tempos, e se calhar já ninguém se lembra de quem o fez... - procurem no Google, sff]
 
2.    PUTARIA é um Cidadão ter que descontar 35 anos para receber Reforma e aos Deputados bastarem sómente 3 ou 6 anos conforme o caso e que aos membros do Governo para cobrar a Pensão Máxima só precisam do Juramento de Posse.
 
3.    PUTARIA é que os Deputados sejam os únicos Trabalhadores (???) deste País que estão Isentos de 1/3 do seu salário em IRS.
 
4.    PUTARIA é pôr na Administração milhares de Assessores (leia-se Amigalhaços) com Salários que desejariam os Técnicos Mais Qualificados.
 
5.    PUTARIA é a enorme quantidade de Dinheiro destinado a apoiar os Partidos, aprovados pelos mesmos Políticos que vivem deles.
 
6.    PUTARIA é que a um Político não se exija a mínima prova de Capacidade para exercer o Cargo (e não falamos em Intelectual ou Cultural).
 
7.    PUTARIA é o custo que representa para os Contribuintes a sua Comida, Carros Oficiais, Motoristas, Viagens ( sempre em 1ª Classe ), Cartões de Crédito.
 
8.    PUTARIA é que S. Exas. tenham quase 5 meses de Férias ao Ano (48 dias no Natal, uns 17 na Semana Santa mesmo que muitos se declarem não religiosos, e uns 82 dias no Verão).
 
9.    PUTARIA é S. Exas. quando cessam um Cargo manterem 80% do Salário durante 18 meses.
 
10.  PUTARIA é que ex-Ministros, ex-Secretários de Estado e Altos Cargos da Política quando cessam são os únicos Cidadãos deste País que podem legalmente acumular 2 Salários do Erário Público.
 
11.  PUTARIA é que se utilizem os Meios de Comunicação Social para transmitir à Sociedade que os Funcionários só representam encargos para os Bolsos dos Contribuintes.
 
12.  PUTARIA é ter Residência em Lisboa e Cobrar Ajudas de Custo pela deslocação à Capital porque dizem viver em outra Cidade.


Bem, estas são as "Putarias" e "Deputarias" conhecidas na Aldeia Tuga... - mas se olharmos à volta cá pela nossa Aldeia, bem, Putedo e Putarias não faltam, mas é melhor nem dizer nada, que os bufos e os pides andam por aqui à espreita (e têm de justificar a merenda).





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Para que serve a Escola???

- Eu cheguei lá há mais tempo... Ainda a procissão estava no adro... Mas quando vinha um inspector escolar a dizer que não se podiam dar tantas negativas, que até ao 9º ano era para passar toda a gente, que todos os alunos eram potencialmente génios e se o aluno não se revelava o génio que era, a culpa era do prof., ao mesmo tempo q dizia q cada aluno era um caso, e, como tal, para atender a esse "caso" (normalmente perdido), tinha que se atrasar a turma toda para dar atenção a quem não queria saber nada daquilo... Ah, mas o facilitismo era só para os alunos, pois que para os profs. eram cada vez mais exigências: planos de aula, testes planificados (que na verdade interessavam pouco, porque "a avaliação devia ser contínua" e obtida mediante a "participação" na sala de aula... etc., etc.....).

- Tive sorte, que nesse tempo (1987/1988), ainda não havia telemóveis... Nem a escolaridade "obrigatória" para minorias étnicas que se estão a marimbar para a escola e que se por acaso são repreendidos, vão buscar o pai e a mãe e os irmãos e a tribo toda e o desgraçado do prof. está tramado...

- Vendo o rumo da coisa, a partir de dada altura achei que era melhor "dar de frosques", seguindo o conselho - que até aí me irritava - de um amigo meu, ex-prof., que dizia que "só ficava no Ensino quem não sabia fazer mais nada!"...

- Mesmo assim, e se calhar porque ainda estava nesse tempo, e com a procissão no adro, gostei da experiência docente. Nela continuaria, se esses teóricos da "Escola aberta", como os teóricos das "Sociedades abertas", que apodreceram paulatinamente toda a civilização ocidental, não tivessem cavado este sepulcro... Mas foi assim:

- A escola deixou de ser o lugar onde se ia aprender alguma coisa, para ser um curral onde se mantêm os meninos mais ou menos juntos para não estarem em casa a fazer merda... - ao fim do dia os papás vão buscá-los no carrinho (os de mais longe, cada vez mais raros, vão de autocarro) e cada qual vai à sua vida, assim quotidianamente, alegremente, imbecilmente, como esta sociedade doente a apodrecer aos poucos, aqui como nas Américas (que é a matriz), nas Américas como aqui... - A China agradece.

Aqui vos fica, o que mão amiga me enviou cá para a Aldeia:

               "Cansei-me, rendo-me..."

Leonardo Haberkorn, jornalista e escritor, era professor numa universidade de Montevideo.  Deixou o ensino, que antes o apaixonava, e explica porquê.
 "Depois de muitos e muitos anos, hoje dei a última aula na Universidade.
Cansei-me de lutar contra os telemóveis, contra o whatsapp e contra o facebook. Ganharam-me. Rendo-me. Atiro a toalha ao chão.
Cansei-me de falar de assuntos que me apaixonam perante jovens que não conseguem desviar a vista do telemóvel que não pára de receber selfies.
Claro que nem todos são assim. Mas cada vez são mais
Até há três ou quatro anos a advertência para deixar o telemóvel de lado durante 90 minutos, ainda que fosse só para não serem mal-educados, ainda tinha algum efeito.
Agora não. Pode ser que seja eu, que me desgastei demasiado no combate. Ou que esteja a fazer algo mal.
Mas há algo certo: muitos desses jovens não têm consciência do efeito ofensivo e doloroso do que fazem. Além disso, cada vez é mais difícil explicar como funciona o jornalismo a pessoas que o não consomem nem vêem sentido em estar informadas.
Esta semana foi tratado o tema Venezuela. Só uma estudante entre 20 conseguiu explicar o básico do conflito. O muito básico. O resto não fazia a mais pequena ideia. Perguntei-lhes (...) o que se passa na Síria? Silêncio. Que partido é mais liberal ou que está mais à 'esquerda' nos Estados Unidos, os democratas ou os republicanos? Silêncio. Sabem quem é Vargas Llosa? 
Alguém leu algum dos seus livros? Não, ninguém! Lamento que os jovens não possam deixar o telemóvel, nem na aula. Levar pessoas tão desinformadas para o jornalismo é complicado.
É como ensinar botânica a alguém que vem de um planeta onde não existem vegetais. Num exercício em que deviam sair para procurar uma notícia na rua, uma estudante regressou com a notícia de que se vendiam, ainda, jornais e revistas na rua.
Estes jovens, que continuam a ter inteligência, simpatia e afabilidade, foram enganados, a culpa não é só deles. A incultura, o desinteresse e a alienação não nasceram com eles.
Foram-lhes matando a curiosidade e, cada professor que deixou de lhes corrigir as faltas de ortografia, ensinou-lhes que tudo é mais ou menos o mesmo. Então, quando compreendemos que eles também são vítimas, quase sem darmos conta vamos baixando a guarda.
E o mau é aprovado como medíocre e o medíocre passa por bom, e o bom, as poucas vezes que acontece, celebra-se como se fosse brilhante. Não quero fazer parte deste círculo perverso. Nunca fui assim e não serei assim.
O que faço sempre fiz questão de o fazer bem. O melhor possível. E não suporto o desinteresse face a cada pergunta que faço e para a qual a resposta é o silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Eles queriam que a aula terminasse. Eu também."  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Laranjolices



Toda a gente sabe que o PSD foi sempre um partido de conspirações permanentes, um saco de gatos, todos àvidos de poleiros e de tachos. Será o mesmo nos outros partidos, por isso a tal de "democracia" ( = partidocracia, tão bem denunciada no post de ontem - ver artigo de Paulo de Morais) é o que é...

Assim foi que o coiote Montenegrino, com aquele seu ar (e andar) de hiena, ou ainda, continuando nas metáforas da selva africana, de macacóide com pretensões, apareceu a tentar destronar o macaco velho. É típico. Mal pressentem algum sinal de fraqueza, os macacóides candidatos a líder começam a morder no macho Alfa, para o substituir. É a vida, diria o outro. Para o ainda macho Alfa é uma questão de tempo (e de dentes). 

Esperam-se as cenas dos próximos episódios, mas a verdade é que esses macacóides pretensiosos nunca desarmam e são mesmo muito bons nas "malas artes" da conspiração. Aqui vos fica mais este retrato (ou retrete) do "país real", com a devida vénia do DN:

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

PARTIDOCRACIA - o verdadeiro cancro na "democracia" tuga


Sempre certeiro, aqui afixamos, na praça cá da Aldeia, mais este escrito de Paulo de Morais - sem comentários: 

A partidocracia destrói a democracia

Paulo de Morais
(Presidente da Frente Cívica)

Criados para representar as diferentes visões da sociedade, ao serviço do eleitorado, os partidos políticos estão em fase acelerada de degenerescência. São habitados por elites políticas que esqueceram os cidadãos e tudo fazem agora para manter os privilégios de que se foram apropriando. São os principais responsáveis pela abstenção, pelo desinteresse crónico pela política e pela crise da democracia.

O principal objectivo dos maiores partidos portugueses é, na verdade, manterem-se na esfera do poder, partilhar negócios de Estado com os grupos económicos de que são instrumento e garantir emprego aos muitos milhares de apaniguados, os militantes partidários e seus familiares.

 O seu primeiro desígnio é eliminar a concorrência. Instalados no poder, os partidos do sistema (PSD, PS, CDS, Bloco e PC) garantem o exclusivo das candidaturas ao Parlamento, para que personalidades independentes não possam ter assento na Assembleia da República. Não permitem a entrada no seu feudo parlamentar de independentes, obstaculizam o acesso a novos partidos. Para beneficiar os maiores, permitem-se violar o princípio da proporcionalidade, que a Constituição exige: em 2015, um deputado do PSD ou do PS foi eleito com 20 mil votos, mas já o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista necessitam para a sua eleição cerca de 30 mil votos. Além do mais, impedem que outras forças políticas tenham acesso ao Parlamento, apesar de algumas delas terem recebido muitos mais votos do que os 20 mil que elegem cada um deles.

Os partidos nem sequer cumprem a lei, em múltiplos aspectos, o mais escandaloso dos quais é o desrespeito pela legislação de financiamento político. São recorrentemente condenados, multados pelo Tribunal Constitucional; mas sem quaisquer consequências, porque o Estado sempre permite a prescrição, no tempo, das sanções que aplica. Estes partidos garantem ainda, apenas para si próprios, financiamentos de Estado permanentes. Usufruem de subsídios públicos de todo o tipo, com os quais mantêm uma máquina de propaganda, ilegítima fora de períodos eleitorais. Só em Portugal há, em permanência, propaganda partidária nas ruas, uma forma de lavagem cerebral sistemática. Utilizam até o domínio público como propriedade sua: são aos milhares os pequenos cartazes ilegais, degradados, apensos a candeeiros públicos, de propaganda ao Bloco de Esquerda e do Partido Comunista. Este lixo urbano deveria ser removido pelas câmaras, o que não acontece, porque os partidos estão acima da lei.

Agarrados como lapas ao Estado, os dirigentes partidários distribuem benesses e privilégios pelas empresas que os financiam e para as quais vão mais tarde como assalariados. Foi o que sucedeu com as ruinosas parcerias público-privadas rodoviárias, cujo maior agente foi a MotaEngil, que acabou a albergar quase todos os ex-governantes do sector das obras públicas: de Jorge Coelho a Seixas da Costa, do PS, a Valente de Oliveira e Ferreira do Amaral, do PSD. O mesmo fenómeno de promiscuidade entre política e negócios marcou a onda de privatizações ao desbarato, manipuladas por políticos que hoje recebem tenças milionárias nas empresas que os próprios partidos privatizaram. O socialista Luís Amado preside à privatizada EDP, assessorado pelo social-democrata António Mexia e pela centrista Celeste Cardona. Para presidir à privatizada ANA, foi designado o ex-ministro José Luís Arnaut. A lista dos políticos de negócios é interminável, neste infernal sistema de portas giratórias que coloca o Estado ao serviço de interesses privados.

Além de negócios e rendas milionárias, os partidos garantem a sobrevivência económica dos seus apoiantes através da atribuição de muitos milhares de empregos. Usam, para este fim, a administração central, as autarquias, as empresas municipais, os institutos públicos. Transformaram-se mesmo na maior agência de emprego do país. Assim, os partidos tudo fazem para manter o statu quo: controlam o sistema eleitoral, impedem a apresentação de alternativas, violam leis, utilizam recursos públicos em seu proveito, manipulam a opinião pública, enxameiam as televisões com comentadores facciosos, censuram todo o discurso contraditório. Ameaçados pelo desmoronar das bases democráticas, preferem apelidar de populista qualquer alvo em movimento, do que realmente regenerar a sua missão. Os partidos, que deveriam ser a essência da democracia, estão a aniquilá-la.

in Público, 2019.01.17