quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A vontade política, ou a falta dela

Para o povo que está por Lisboa, e para os que têm possibilidade de lá dar um saltinho, como quem diz, fica a sugestão: 21, 22 e 23 de Janeiro o espaço colectivo Unipop vai promover um seminário dedicado à vontade política.
Nos últimos anos, especialmente com a explosão da crise económica e financeira, assistiu-se, a nível global, à intensificação de um vasto conjunto de lutas políticas e sociais. O problema da subjectividade, nomeadamente o da emergência de um sujeito colectivo da política, volta a colocar-se, desse modo, através da mobilização em larga escala para gestos de resistência e proposta, de indignação, e de reflexão programática sobre cenários mais ou menos difusos de mudança.
Se é verdade, por um lado, que este fenómeno se pode deixar entender à luz de uma alteração do paradigma pelo qual temos, até agora, pensado a política, parece também certo, por outro, que estas lutas são muitas vezes reconduzidas a uma filosofia política clássica, assente em categorias como «organização», «programa», «poder», «estado» ou «objectivos». Neste quadro, a categoria de «vontade» ganha uma nova relevância teórica, encontrando-se no centro de alguns dos mais importantes debates filosóficos actuais à volta da política.
Verifica-se, assim, no plano da produção teórica, uma recuperação da ideia de «vontade», bem como da tradição do voluntarismo político associado a figuras como Gramsci, Lenine ou Franz Fanon, enquanto elementos indispensáveis para pensar a subjectividade política. Esta é a proposta de Peter Hallward.
Por outro lado, temos assistido, nas últimas décadas, à ontologização de alguma filosofia política que, precisamente, questiona essa mesma concepção de vontade, e que vem no seguimento de uma longa linhagem crítica desta categoria, que se foi desenvolvendo ao longo do século XX, e que podemos de modo excessivamente simplista, arrumar em duas tendências: a crítica heideggeriana da vontade, que se prolonga em Hannah Arendt e tem hoje em Giorgio Agamben, porventura, o seu representante mais notório; a linhagem espinosana e deleuziana, que podemos encontrar, por exemplo, em François Zourabichvilli.
O carácter por vezes abstracto da formulação teórica não nos deve enganar: o que está em jogo é a discussão à volta do modo como a resistência e a luta se podem pensar no aqui e no agora, e como é que o podemos fazer sem repetir os erros do passado.
Neste seminário intensivo propomos aprofundar este debate através das suas linhas de tensão, a partir da leitura conjunta de uma selecção de textos.
Propomos, nesse sentido, os seguintes textos para discussão nas sessões:


· André Barata, «Prefácio», Primeiras Vontades – da liberdade política para tempos árduos, 2012;

· V. I. Lenine, Que Fazer?, 1902;

· François Zourabichvili, «Deleuze e o possível (do involuntarismo em política)», 1995;

· Peter Hallward, «Communism of the Intellect, Communism of the Will», 2009;

· Giorgio Agamben, «Le due ontologie, ovvero come il dovere è entrato nell'etica», Opus Dei: Archeologia dell'ufficio, Homo sacer II 5, 2012.

Datas: Dias 21, 22 e 23 de Janeiro, das 18h às 20h

Organização: UNIPOP

Coordenação: André Barata, André Dias, Miguel Cardoso

Apoio: «Seu Vicente» Residências Artísticas, c.e.m (centro em movimento), Câmara Municipal de Lisboa

Local: «Seu Vicente» Residências Artísticas (Rua da Boavista, n.º 46 – 1.º, Lisboa – http://t.ymlp254.net/wqaxawesyafauqeatauhyqw/click.php, localização aqui)

A frequência do seminário é livre, mas pede-se aos interessados que efectuem uma inscrição prévia, enviando um e-mail com o nome para cursopcc@gmail.com.

Lugares limitados.

No final do seminário será emitido um certificado de frequência.

André Barata é Doutor em Filosofia Contemporânea e professor da Universidade da Beira Interior, com publicações nas áreas da Psicologia Fenomenológica e da Filosofia Política.

André Dias é doutorando em Ciências da Comunicação/Cinema na Universidade Nova de Lisboa. Investiga as relações entre cinema e filosofia política. Organizou uma conferência sobre biopolítica e traduziu Giorgio Agamben.

Miguel Cardoso é doutorando em Literatura Inglesa em Birkbeck College, University of London.

A Unipop é um colectivo de Lisboa constituído em 2007 com o objectivo de disseminar o pensamento crítico e a prática militante para lá dos limites do circuito académico e da política institucional e de abrir novos espaços onde o capitalismo contemporâneo possa ser sujeito à análise e à intervenção política.

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