domingo, 1 de dezembro de 2013

Burro mirandês na boca do mundo

Um jornalista americano escreveu um artigo sobre os burros mirandeses e logo os jornais portugueses apontaram que este estaria a comparar o interior de Portugal (e não todo o país) e os seus problemas aos da raça asinina. Pois bem, diz o jornalista que não era bem essa a ideia...

O artigo da publicação norte-americana começa com uma frase sugestiva: "Hoje não é fácil ser burro." Segue para a descrição da função tradicional do burro mirandês – a de ajudar os agricultores de Miranda – e para a eventual extinção da espécie tipicamente portuguesa, entretanto substituída por maquinaria moderna e tractores no cultivo dos campos.

Não tarda a aparecer a primeira a metáfora: "Depois de décadas de negligência e, dizem alguns, desentendimentos, o destino do burro começa a assemelhar-se ao dos humanos, [por estarem] ameaçados pelo declínio da população e com a sobrevivência dependente, sim, de subsídios da União Europeia."

A aldeia de Paradela no concelho de Miranda do Douro é o cenário escolhido pelo jornalista Raphael Minder para explicar de que forma está a União Europeia a tratar "as suas zonas rurais", mais precisamente os países do Sul da Europa. De acordo com o artigo, a situação que Portugal atravessa é semelhante à extinção do burro mirandês.

“À medida que os jovens continuam a trocar as zonas rurais pelas cidades, os burros estão também ameaçados, porque os agricultores estão a ficar velhos e não podem cuidar deles”, pode ler-se no artigo do The New York Times.

Um interior desertificado, a agricultura abandonada, os cortes dos fundos europeus destinados ao sector primário, os apoios e o resgate financeiro que chegam das instituições da União Europeia são as preocupações do autor, que foram entendidas em Portugal como uma comparação.

Raphael Minder cita o ex-presidente da Junta de Freguesia de Ifanes, Miranda do Douro, Orlando Vaqueiro, para sustentar a ideia de que "hoje não é fácil ser burro" em Portugal: "Precisamos dos subsídios para manter os burros, mas o resultado é que todos se tornam completamente dependentes deles, portanto não há espírito de inovação nem desejo de modernizar ou produzir mais."

O PÚBLICO contactou o jornalista para perceber se a sua intenção era ou não fazer uma comparação entre a extinção do burro mirandês e o interior do país. De acordo com o Raphael Minder, pensar numa comparação entre a espécie mirandesa e o país "é um absurdo".

"Quero deixar claro que não há nenhuma comparação propositada", declarou o jornalista, correspondente do jornal norte-americano em Portugal e Espanha.

"A única coisa que fiz foi dizer que aquelas regiões estão a passar dificuldades, que também vale a pena pensar nos animais, mesmo naqueles que, como o burro, não são tidos como raças em vias de extinção, como o lince e o lobo", esclarece o jornalista. "E também quis levantar a velha questão de que os subsídios europeus para a agricultura precisam ter um retorno sobre o investimento que o justifiquem", acrescenta.

Fonte: Público

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