Todo o paleio está muito giro, mas, no fim, não se percebe se o rapaz defende ou não a existência dos estaleiros de Viana do Castelo (pois que com a estória do burro é aí que quer chegar). Parece que é contra o "chubchídio", ok, tudo bem. Na lógica neoliberal, de anti-shubchídiodependência, tudo o que não der lucro não deve existir; mas depois diz que temos umas grandes milhas marítimas e até tínhamos capacidade para ter não sei quantos estaleiros... E então porque não temos? De quem é a culpa? dos grandes empresários tugas, que não têm capacidade para os montar e manter (sem chubchídio)? dos malandros dos operários que só querem direitos e privilégios? da crije que determina que não haja encomendas? - não sei, porque não sou "inconomista", mas em vez de mandar meia-dúzia de patacoadas meias neoliberais, gostava que estas pitonisas que escrevem nas páginas "inconómicas" de certos jornais, nos esclarecessem.... Porque para mandar bitaites para o ar, tipo treinadores de bancada, não precisamos de ter altos cursos de... Inconomia.
Aqui vos fica:
«O burro não sabe nadar
por ANDRÉ MACEDO
Quando
Manuel Pinho era o inquilino do Ministério da Economia pediu um estudo para
entender como os mercados olhavam para Portugal. Não seria preciso ir tão longe
para chegar às conclusões apresentadas, mas as que foram entregues revelaram algum
humor. À pergunta "a que animal associa Portugal?", a maioria
respondeu: o burro. Poderia ter sido o touro, podia ter sido a sardinha, mas
foi o burro, como também foi o jumento que fez capa no New York Times há
uns dias.
É evidente
que já não nos devíamos inquietar com estas coisas. O jumento mirandês é um
bicho simpático que ajuda a interromper a rotina tipográfica do jornal e é,
digamos, muito fofinho, além de até ser um bom postal para os turistas. É muito
local e funny e até ecofriendly. Não entendo, por isso, a
reação à capa do Times: temos de admitir que a metáfora é zoologicamente
certeira. Portugal é um país velho (antigo), desgastado (cansado da
austeridade) e mais dependente do que nunca de subsídios europeus para
sobreviver - juros amigos, bónus da PAC e outros programas recheados de
acrónimos para que ninguém os fiscalize.
O jumento
mirandês é apenas o resultado peludo desta política europeia, a mesma que levou
à falência a agricultura e as pescas nacionais, mas que ainda tem mesada para atirar
uns milhões para o jumento ou para a coruja dos Alpes. Na verdade, tudo isto é
apenas a expressão de uma rede de lóbis que leva o que pode. Numas vezes usa os
bichos para encher a carteira, noutras os sindicatos. A este propósito é muito
significativo o escândalo da UGT espanhola, que usou fundos destinados à
formação profissional para oferecer malas de pele - que mandou copiar a uma
empresa de Madrid - e fabricar na China.
Apesar de
tudo isto, os países ainda fazem mais batota. Os Estaleiros de Viana, por
exemplo, que agora provocam lágrimas de indignação - 500 anos depois ainda não
enterrámos os Descobrimentos - , são um exemplo de dinheiro público despejado
durante anos sob forma de auxílios ilegais a uma companhia que, paradoxalmente,
acabou por ficar sem incentivo para competir. Se há subsídio, não é preciso dar
lucro, não é? Que os governos façam isto já não espanta ninguém; mas o ponto é
outro.
Portugal tem
tudo para exibir uma indústria naval rentável. Tem conhecimento e marca. Tem
uma zona económica marítima sem paralelo: é a quinta maior do mundo e tem 18
vezes a sua superfície terrestre. Podia ser o país dos estaleiros navais, da
investigação e do conhecimento do mar. E no entanto não o é, apesar de o Estado
ter sido durante anos um business angel dos diabos: pagou a aventura e
não reclamou. Mas esses dias já eram. Convenhamos: nem tudo é Estado social. Os
Estaleiros de Viana e os seus navios não o são certamente, apesar de o circo
destes dias à volta do assunto ser very tipical de um país que vai de
cavalo para burro.»
in: D.N. 2013.12.05 - http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3569856&seccao=Andr%E9%20Macedo
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