quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Internet e espionagem...

Manuel Loff (prof. da Faculdade de Letras da U.P.), in Público, 31.10.2013:

"A internet foi transformada no mais perigoso facilitador do Totalitarismo"

Há dias passou por aí uma reportagem televisiva sobre despedimentos por causa de coisas postadas nos Facebooks (críticas de empregados a entidades patronais, etc.). E disse-se que nos EUA antes de se contratar alguém, a entidade contratante tratava de espiolhar o Facebook do candidato, isto para já não falar de tudo o que pudesse vir na net sobre o sujeito (ainda que sejam aleivosidades e mentiras), e, para pior, quem não tenha perfil no Face também pode não ser aceite em concurso pois isso indicia alguém "muito estranho", que não estando em redes sociais era porque devia ter "algo a esconder".... Mas enfim, na América tudo é possível, sobretudo agora que se sabe que o "Big Brother" chegou em força e nem o Papa escapou, para além de tudo o que era dirigente mundial (os russos das soviécias tinham a fama de grandes espiões, mas agora se vê que a América, com os seus satélitezinhos, não lhe fica atrás, mau grado querer continuar a aparecer como a "campeã da democracia e da Liberdade"). Razão tinha Orwell...
O problema é que isto do espiolhanço e da bufaria não é coisa nova... Na velha Aldeia sempre houve os "traz e leva", "as mulherzinhas de soalheiro" (quiçá as inventoras do jornalismo cor-de-rosa), e, a um nível mais requintado, os "Bubo-bubos" pagos pelos manda-chuvas, mesmo que a coberto de outros cargos profissionais. Entre estes, havia-os os de nível tradicional, os "orelhas" que pairavam pelos cafés, praças, repartições, e, com a evolução tecnológica, alguns tornaram-se mais sofisticados. Recordo-me de uma vez o Manda-chuva da minha aldeia me ter mostrado um "print" de um diálogo entre dois jovens aldeãos, numa rede social, creio que ainda um "chat" (curto estes neologismos nas "netes"!), em que um se gabava para outro de ter "espetado uma granda sarda" (vulgo bebedeira) a um qualquer artista citadino, convidado pelo dito Manda-chuva, depois de uma actuação do dito artista na praça da aldeia. "- Veja só se isto é coisa que se diga, a gozar com um convidado nosso!?..." - perguntava-me, esquecendo-se que o dito convidado até podia ter achado piada aos comentários, depois da "recepção copofónica"... - Creio que deve ter mostrado o mesmo papel a vários aldeãos que o procuraram por esses dias, por outros assuntos, mas, nas entrevistas com o Manda-chuva havia sempre um "período de antes, ou depois, da ordem do dia" em que o homem dizia o que lhe ia na alma. Com que objectivo, não sei: talvez para nos dizer, indirectamente, "cuidado com o que vc. possa dizer por aí, mesmo nas netes, porque eu sei tudo!...." - E sabia. Não fosse isto um país de bufos desde tempos imemoriais. Quem alimentou a Inquisição durante séculos?
A bufaria está na massa do sangue do Tuga, e, se for preciso, para se "queimar" um rival, um concorrente, um adversário, para já não falar de um inimigo, perscruta-se-lhe a vidinha toda, percorre-se-lhe os itinerários, procura-se quem o conhece, até se se descobrir o que diz, e sobre quem o diz. Sendo que dantes se podia inventar que disse o que não teria dito (ou não teria dito bem assim), e tudo dependia depois do "emprenhanço de orelha" da parte do Manda-chuva, se valorizava a fonte, ou se lhe interessava acreditar no que a "fonte" (leia-se, o bufo) lhe transmitia. Agora, se for preciso usam-se gravadores, ou então procuram-se as "evidências" na net. E ele há burrinhos(as) que escarrapacham a vidinha toda nos Face's, parece que ignorando que há por aí  espiões e espias que não fazem outra coisa do que espiolhar, dia e noite, o que diz este(a) ou aquele(a), na convicção de que muita dessa informação "pode dar jeito". Desconfiem sempre desses que se insinuam e pedem "Amizade" a tudo o que é cão e gato, que freneticamente percorrem todos os blogues e batem o terreno como coiotes esfaimados à procura.... Verdadeiros caçadores de "informações" para depois com elas jogarem, insinuando-se junto dos poderes e dos poderosos, sempre em proveito próprio. Outros há que, não tão freneticamente, mas igualmente cirúrgicos e insidiosos, escolhem os alvos, descobrem-lhe os rastos e, quais pisteiros de savana, seguem silenciosamente as vítimas, reencaminhando a "informação" para "quem de direito"... Alguns saberão até quem nós somos, farejam-nos sob a nossa croça de Ti Zé, suspeitam onde fica a nossa Aldeia e até o tugúrio onde moramos. Esperam, silenciosamente, que avancemos a cabeça para fora da carapaça de cágado, para no-la cortarem, chibando às orelhas certas... Assobiamos para o lado e fingimos que não os vemos, mas que eles andam por'i, lá isso andam...
Este é o ponto em que aldeia real e virtual se tocam e complementam, e o melhor mesmo é estarmos caladinhos, para não alimentarmos novos Bubo-bubos, e, no fim, não levarmos no focinho... - Enfim, é preciso aprender a saber viver, nestes arremedos de "democracia", global e local...

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