sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Autor de 'Austeridade' diz que cortes em Portugal são inúteis

Talvez fosse necessário refrear a Era do Consumismo. Era seguramente necessário moralizar o sistema, acima de tudo eliminando a corrupção, fuga ao fisco, etc. (só que os prevaricadores são precisamente os tais chico-espertos ligados ao "empresarismo", incensados como "empreendedores", novos deuses do Capitalismo).
Todavia, esta "receita" híper-neoliberal que visa apenas o empobrecimento das massas para melhor as explorar, reeditando o velho esclavagismo (que, sabemos hoje - vd. jornal Público - atinge milhões ao nível planetário, com especial incidência numa dessas "economias emergentes", a saber, a Índia).
Há anos que defendo que se configura no horizonte uma nova Idade Média. Todos se riam, pois que não passo de um pobre pastor de aqui de atrás das fragas... Mas, pelos vistos, um categorizado catedrático de economia (M. Blyth) de uma universidade americana (felizmente há mais mundo para além da univ, de Chicago - ou antes: "para chi cago!"...), vai mais longe: denuncia que estes tipos que mandam no mundo querem levar-nos mesmo um pouco mais para trás: para a IDADE DA PEDRA!!!...
Ok, cá pela Aldeia, voltaremos a trocar ovos por batatas, e pitas por borregos, e que se lixe o dinheiro!... . que o metam (banqueiros e afins) todo no C*...

Aqui vos fica:

Fonte: Lusa  - 14:22 - 18 de Outubro de 2013


"[Os cortes orçamentais] São totalmente inúteis. O problema é a forma como os bancos portugueses e a economia portuguesa estão agarrados a um sistema monetário que tem um banco central mas não dispõe de um sistema de coleta de impostos (a nível Europeu) capaz de resolver o problema. Podem espancar a despesa pública portuguesa até a rebaixarem a 'níveis neolíticos'. É como instalar uma instituição bancária na Idade da Pedra. Não resolve o problema. O que estão a fazer é totalmente inútil", disse à Lusa Mark Blyth a propósito dos cortes orçamentais anunciados pelo Governo português.

O escocês Mark Blyth, professor de Economia Política no departamento de Ciência Política da Universidade de Brown, em Providence, Estados Unidos, é autor do livro "Austeridade -- uma ideia perigosa" em que defende que as medidas drásticas não são adequadas para a solução da crise económica.
"Quando tudo começou a arrebentar em 2007 e 2008 ficámos a saber tudo sobre as fragilidades das economias do sul da Europa, mas também sobre o elevado nível de endividamento do sistema bancário e que esteve escondido durante mais de uma década", disse o académico, sublinhando que as medidas impostas pelos governos dos países expostos à crise não fazem sentido porque apenas servem o sistema bancário em crise.
"O que são necessárias são políticas - caso contrário - a mobilidade laboral vai tentar afastar o problema justificando-a como uma medida económica afastando as pessoas com qualificações que simplesmente vão abandonar os países. E depois quem paga os impostos?", questiona Mark Blyth, recordando que na Irlanda milhares de académicos já abandonaram o país.

Para o professor de Economia Política, pressionar o sistema com austeridade "como se fosse um estilo de vida" só pode dar maus resultados e a crise não pode ser solucionada enquanto se tenta resolver, "ao mesmo tempo", uma crise bancária "através de reformas governamentais, porque uma coisa não tem nada que ver com a outra".
"A austeridade é uma forma de deflação voluntária em que a economia se ajusta através da redução de salários, preços e despesa pública para 'restabelecer' a competitividade, que (supostamente) se consegue melhor cortando o Orçamento do Estado, promovendo as dívidas e os défices" (página 16), escreve Blyth no livro "Austeridade -- uma ideia perigosa", realçando que não se verificam à escala mundial casos que tenham sido solucionados com políticas de austeridade."Os poucos casos positivos que conseguimos encontrar explicam-se facilmente pelas desvalorizações da moeda e pelos pactos flexíveis com sindicatos (...) A austeridade trouxe-nos políticas de classe, distúrbios, instabilidade política, mais dívida do que menos, homicídios e guerra" (páginas 337-338), escreve o autor.

"Mas também é uma ideia perigosa porque o modo como a austeridade está a ser apresentada, tanto pelos políticos como pela comunicação social -- como o retorno de uma coisa chamada 'crise da dívida soberana' supostamente criada pelos Estados que aparentemente 'gastaram de mais' -- é uma representação fundamentalmente errada dos factos", defende Blyth.

Como alternativa, o autor da investigação defende a "repressão financeira" assim como um esforço renovado na coleta de impostos "sobre os mais ganhadores", a nível mundial, assim como a procura de riqueza que se encontra "escondida em offshores" e que os Estados "sabem" onde está.
"Na verdade, um novo estudo da Tax Justice Network calcula que haja 32 mil biliões de dólares, que é mais duas vezes o total da dívida nacional dos Estados Unidos, escondidos em offshores, sem pagar impostos" (página 358), conclui Mark Blyth no livro "Austeridade - A história de uma ideia perigosa" (editora Quetzal, 416 páginas).

Ler no original:

2 comentários:

  1. -» Anda por aí muito pessoal a dizer: «Nós defendemos uma política baseada no aumento da procura, essencial para fazer crescer a oferta».
    -» Este pessoal é discípulo do 'grande mestre' Eng. José Sócrates!!!
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    -» O 'grande mestre' anti-austeridade (vulgo: «política baseada no aumento da procura… essencial para fazer crescer a oferta…) em seis anos fez a dívida subir de 61,7% do PIB (final de 2005) para 108,1% do PIB : o Eng. Sócrates quase duplicou a dívida pública em seis anos!
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    -» Um Estado endividado… é um ESTADO DE JOELHOS perante a alta finança… e um Estado de joelhos vende empresas estratégicas para a soberania!
    -» Já foram a gasolina, a electricidade, as comunicações, etc… e já há pessoal a falar na privatização da água, do espaço marítimo português, etc.
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    -» A manta tapa de um lado destapa do outro… leia-se: importante importante mesmo é ABRIR O DEBATE!...
    -» Ora, de facto, Portugal não precisa de políticos que querem contraír mais dívida… mas sim, de POLÍTICOS DISPONÍVEIS PARA DISCUTIR INTENSAMENTE A GESTÃO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS!... [nota: os CGTP’s sempre fizeram o contrário!!!]
    -» De facto, durante anos foi o regabofe total: os CGTP's queriam mais e mais.. jubilavam quando os aumentos vinham... e... varriam para debaixo do tapete o facto da entidade pagadora (leia-se o Estado) estar a atingir um nível de endividamento muito perigoso...
    -» Não podemos pactuar com conversa à CGTP… ou seja: conversa de quem vier a seguir que feche a porta!
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    -> Resumindo: os lobbys poderão negociar normalmente com os governos… só que… depois… a coisa terá que passar pelo 'crivo' do contribuinte: "O Direito ao Veto de quem paga" (vulgo contribuinte) - ver blog 'fim-da-cidadania-infantil' (Democracia Semi-Directa).

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  2. caro "menvp",
    Obrigado pelo seu comentário. Vi o blogue que indicou, e constatei que é adepto de uma espécie de democracia directa baseada numa cidadania vigilante e responsável. Estamos de acordo. No nosso post sobre a política da "Austeridade" em que reportamos a opinião de um economista americano (que não da maléfica "escola de Chicago"), tivemos o cuidado de começar por dizer que "talvez fosse necessário refrear a era do Consumismo", entendendo esta, inclusive, como uma das facetas da "era do Vazio" de que falava Lipovetsky. Todavia, quem promoveu essa era, foi precisamente o tal capitalismo selvagem, o mesmo que levou à crise financeira, e, cujos adeptos no campo ideológico preconizam agora a tal de "austeridade" (só para alguns, sempre os mesmos, o zé pagode, os funcionários públicos e até, agora, os pensionistas, com a desculpa que é só para escolões superiores, mas que, um dia destes, chegará às pobres velhinhas da Aldeia). Se achamos que era preciso pôr côbro o que chamamos o "Grande Regabofe" (a expressão surge em posts anteriores, no nosso blogue), sobretudo, na Tugalândia, associado ao Guterrismo e Socratismo, também nos parece que estas doses cavalares de "Austeridade" (sempre aos mesmos, sem coragem para se tocar nos "grandes", com a desculpa de que esses depois mudam as sedes das empresas para o estrangeiro, ou põem o dinheiro lá fora - como se já não o tivessem feito!), e isto sem discutir ou tentar renegociar com a famigerada troika, enfim, parece-me que só leva ao que já alguém disse: o intuito deles é que se PAGUE aos especuladores internacionais (os vampiros que estão a lucrar com tudo isto, com os juros chorudos), nem que no fim já não haja Portugal, nem portugueses. Ou, grécia e gregos, ou irlanda e irlandeses... Há, a nosso ver, efectivamente, uma agenda ideológica por detrás disto tudo.
    Quanto aos CGTP's, se protestam, estão a fazer o papel deles. Se exigiram de mais, no "bom tempo", tendo contribuído também para o "grande regabofe", pois estavam a fazer o papel deles. Havia, acho eu, já na altura um conselho de concertação social, em que o patronato e o Estado lá estavam. Se foram aceitando, foram cúmplices do estado de coisas... E neste aspecto, acho que ninguém se pode pôr de fora.
    Que é necessário uma Cidadania mais activa, mais empenhada e sobretudo mais responsável, estamos de acordo. Que urge fazer-se um grande debate sobre o modelo político a adoptar na Europa, tendo em conta o quadro global, sem importar modelos prêt-a-porter, concebidos por grandes "gurus" de grandes "escolas" sobretudo norte-americanas (e o lindo enterro que por lá estão a ter também é revelador), penso que também estamos de acordo.
    Assim sendo, e à falta de outro meio, creio que podemos ir aproveitando esta ÀGORA global (será um dos poucos aspectos positivos da globalização) que é a blogosfera, para trocar opiniões. De como juntar as conclusões e encaminhá-las, de forma audível, para os Senhores que mandam, é que me parece mais difícil... Neste particular, a clivagem entre o "nós", os simples cidadãos, os zés-da-aldeia, e o "Eles", os das 100 famílias que nos (des)governam há mais de 100 anos, parece-me que continua a ser bem real...
    Cumprimentos cá do Ti Zé, e mande sempre.

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