segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os vaticínios de Natália Correia...

Corre aí pela Aldeia....

 
«A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"


"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"


"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Natália Correia

Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.»
 
COMENTÁRIO DO TI ZÉ:

- Se, no geral, a senhora acertou - é preciso reconhecer que era um espírito arguto e muito à frente - há aí um parágrafo que peca por abuso de generalização, que é no que se refere aos tais de "Retornados". - O objectivo de quem pôs isso por aí a correr, é associar esse vaticínio a personagens do tipo Passos Coelho & Relvas, que, por mero acaso, terão vindo de terras africanas. Mas, quanto a nós, isso diz mais dos temores e dos fantasmas de Natália Correia e da sua geração - a geração cúmplice de uma "exemplar descolonização" - no fundo a questão da má consciência, do que sobre as tais personagens ora visadas pelos divulgadores dos vaticínios. Porque os srs. Passos Coelhos & Relvas são mais o fruto de um arrivismo chico-esperto que se formou nas jotas dos partidos do centrão e agregados, a que podemos somar um Portas (que nada tem de "retornado"), do que qualquer tipo de "revanche" - ainda que subconsciente - relativamente ao fenómeno "retornado". Aliás, tudo nos leva a crer que este foi mais um epifenómeno que se foi diluindo no tempo.
Os que foram para o ultramar como chicos-espertos, regressaram como tal; os que foram como pessoas capazes e dinâmicas, que perante a adversidade não deixaram cair os braços (apesar de muitos não terem conseguido recuperar do trauma, e terem desistido) e tiveram que "furar" ou trabalhar duramente, para sobreviverem. E os filhos dos espoliados, na maior parte, tiveram essa escola de trabalho e de resposta ao esforço dos pais, porque não é fácil recomeçar da estaca zero. A partir daí, conforme o espírito de cada um, pensamos que se diluíram pelo espectro político.
Não admira que alguns, tendo militado no então CDS (este era o refúgio, o baluarte dos revoltados, um partido minoritário igualmente perseguido e cercado, onde estavam os únicos que ousavam questionar a "exemplar descolonização"), tivessem progressivamente "evoluído" e se encontrem, alguns, no PCP - o que seria impensável à época, porque esse era, à época, o inimigo, o grande responsável pela "exemplar".
O que mudou? Mudou a circunstância dessas pessoas. Os que eram generosos e honestos, tendo engrossado essa classe média que tem vindo a ser alvo de um ataque sem precedentes, com vista à sua destruição, vendo o estado a que isto chegou, talvez por serem portadores desse espírito de revolta, acabaram por fazer uma deriva que os conduziu ao P.C. (sendo certo que o PC hoje já não come criancinhas, e é, de facto, o único baluarte da resistência ao "sistema"). Outros dos tais filhos dos "retornados", seguiram as vias do "sistema" de forma mais acomodatícia e procuram desenrascar-se nele como todos os demais.
Não nos parece que haja, hoje, uma "consciência de retornado" ou, tão pouco, um subconsciente de "retornado". Quando muito um episódio traumáquico para a geração que mais directamente o viveu, mas que procurou apagar, recalcando. Aos seus filhos, isso já nada lhes diz, nem tão pouco nos parece que tenham perdurado no tempo algumas solidariedades resultantes do facto em si. As solidariedades que hoje se vêm, derivam mais das negociatas de um novo tipo de "retornado": os que hoje procuram "retornar" mas é "para lá", e para lá irem fazer negociatas, feitos com as élites corruptas que pululam pelas capitais dos sobados, como são alguns dos que conhecemos. Nada mais.

No entanto, quanto ao resto, julgamos que a pitonisa Natália acertou em muita coisa... Em muita mesmo, a começar no que disse sobre a "Europa", que hoje se deve dizer "Alemanhopa"...

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