Amanhã é o Dia D para muitos(as). Depois do folclore vem a
Decisão.
Só me espantou a vitalidade (e, já agora, o desplante) do
pessoal que apoiou e apoia os tais partidos do “arco da governação” que têm
ajudado a afundar o “país” em consonância com os ventos do neo-liberalismo que
do exterior sopram… Claro que entre esses, os que ora estão no (des)Governo,
até porque faz parte da sua cartilha de desmantelamento do Estado (-Providência
e não só), são os maiores responsáveis.
E como é possível que haja ainda quem aceite integrar listas para as
Autárquicas, sob a bandeira dessa gente?? – Uma bandeira sob a qual andaram
criaturas do tipo Oliveira e Costa, Duarte Lima, Dias Loureiro e afins??
E, para pior, como é possível que muitas dessas listas ainda
se prefigurem como potenciais vencedoras, em muitos sítios (como por exemplo cá
pela Aldeia!), dando novo alento para os tais (des)governantes prosseguirem a
sua política de desvastação, respaldados na famigerada Troika, e indo até para
além dela??
E, como é possível que ainda haja gente ingénua que ainda
acorra ao folclore, integrando caravanas do buzinão e agitando bandeirinhas,
convencidos de que “estes” é que lhes vão dar os tachos ou empreguinhos que os
outros não deram?? – isto quando se sabe que os empregos na função pública,
mormente autárquica, estão congelados, e quando se perspectiva, se calhar logo
nos dias a seguir às eleições, mais despedimentos de funcionários, agora na
administração local (o que só terá sido habilmente retardado, por parte do
(des)Governo, só por causa das eleições autárquicas…)
É claro que, relativamente ao parágrafo anterior, muitos dos
que aderem a um “dado lado”, mesmo que saibam que não vão ter direito a nada,
vão para lá como “revanche” de não lhe “terem arranjado nada” a eles… É por
pura vingança, raiva e inveja (sentimentos tipicamente “tugas”), num “país” em
que, sobretudo no interior, os municípios se tornaram as maiores entidades
empregadoras, de forma directa ou indirecta. E, nessa linha de comportamento,
assistimos às mais miseráveis viradas de casaca, alguns com o cartão partidário de um lado a bandearem-se para o
outro…
Deixou de haver ética, moral, princípios ou convicções mais
de ordem ideológica. A ideologia morreu. O que há, pura e simplesmente, são
interesses. E os partidos, para não falar em alianças conjunturais de tipo “albergues espanhóis” de certas
candidaturas, mais não são do que centrais distribuidoras de mordomias e
satisfação de certos e determinados interesses que a seu tempo se revelarão,
mal os vendedores de ilusões e da banha da cobra cheguem ao Poder…
Passados tantos anos, se algum dia alguma ilusão tive
relativamente a candidatos a mandantes da Aldeia, desencantei-me. Conheço já o
suficiente da natureza humana para saber que virão os ajustes de contas e as
decapitações, por um lado, e, por outro, a promoção e o apoio aos “nossos”,
sejam eles umas (pretensas) luminárias, ou umas abéculas.
Não se privilegiará nunca a meritocracia, nem se aplicarão
políticas delineadas de forma estruturada, em função de estratégias bem
definidas, a curto, médio e longo prazo, procurando mobilizar para isso todas
as forças vivas, sejam “nossos” ou não.
Num território cada vez mais desertificado de gente, é
curioso que tendo lido os programas das candidaturas autárquicas cá da Aldeia,
a palavra Desertificação é praticamente ausente. Parece não ter havido um
diagnóstico profundo da realidade e da situação demográfica, económica, social,
meio físico e humano, pontos fracos e pontos fortes (ou menos fracos), de forma
a, partindo daí, pensar um verdadeiro programa de acção, realista mas ao mesmo
tempo com a ambição de procurar inverter a tendência que é a do deserto. E,
para este fim, TODOS seriam necessários. Só que sabemos que não vai ser assim.
Vai ser antes: correr com alguns, para ver se garantimos os nossos, em função
das nossas politicazinhas casuísticas… Não admira, assim, que na elaboração
desses “programas” não se tenha ouvido a totalidade das chamadas “forças vivas”,
entidades e até pessoas que poderiam dar um contributo válido, quer no que toca às
dificuldades de cada sector, quer ainda no que toca às suas aspirações e ideias
para melhor resolver os problemas e projectar a Aldeia. Propõe-se nesses
programas que se venham a elaborar Orçamentos Participados pela população, numa
espécie de democracia directa. Parece-nos que teria sido mais curial essa
participação popular logo na fase da elaboração dos programas de governação.
Era mais lógico e menos controverso.
Vamos esperar para ver o que acontece. Veremos se ao menos a
atitude não é a de, uma vez vitoriosos, cairmos no costumeiro “quero, posso e
mando”, porque fomos "democraticamente eleitos" pelo povo. É um conceito muito “tuga”
da democracia: esta só serve para se “ir a votos”. Depois fazemos como
entendermos, porque fomos “mandatados” pelo povo. Ora o mandato deveria recair
sobre os Programas, e se o povo tivesse participado na sua elaboração,
contribuiria melhor para a sua implementação, e, a jusante, faria sentido,
igualmente, a sua participação nos orçamentos anuais e a fiscalização do cumprimento
das linhas mestras previamente definidas, em vez de se fiar em promessas mais
ou menos vagas, ou outras até estapafúrdias.
As campanhas deveriam ser, em vez do folclore,
um período de reflexão no final de um mandato, de confrontação de ideias e de
planos estratégicos. Seria uma oportunidade para se tentar demonstrar ao povo
que a nossa “receita” era melhor por isto e isto, e que o feixe de ideias da “outra
parte” pecava por isto e aquilo, obviamente de uma forma civilizada. Dessa forma
abriam-se pontes para o diálogo futuro, em termos de se encontrar uma
convergência que envolvesse todos, para bem do território da Aldeia, sem perder
de vista os territórios de outras “Aldeias”. E se a nível mais geral os mesmos
princípios prevalecessem, o resultado final seria, de facto, um país a sério,
decerto mais equilibrado e mais próspero. Assim, se a Aldeia é o átomo da “território nacional” e
se logo aqui se vê como as coisas funcionam, enfim, como dizia o velho adágio
popular, “quem viu a sua aldeia, viu o mundo todo”.
Conclui-se que há um longo caminho ainda a percorrer no
sentido de uma verdadeira Democracia. Numa verdadeira democracia os cidadãos
deveriam ir ouvir os candidatos – de um lado e de outro – depois de terem lido os respectivos
programas. Deveriam poder fazer perguntas, e interpelar os candidatos em vez
de agitar bandeirinhas, tocar buzinas e bater palmas. Infelizmente, se se vai a
um dado “comício”, é-se logo conotado com esses; se se vai ao dos “outros”, os
anteriores olham-nos logo de través, a pensar que já nos “bandeámos” para o
outro lado…. Porque continua a imperar o princípio fascistóide do “quem não é
por nós, é contra nós”…
Assim sendo, só nos resta remetermo-nos ao nosso silêncio e
a distanciar-nos de tudo isto, esperando que o povo faça a sua escolha,
limitando-nos a esperar a nossa vez de ir à urna e nada mais. – Ah, e depois
levar nas trombas dos dois lados, porque não estivemos em lado nenhum. Talvez a República Centro-africana não esteja assim tão longe...
Uma boa reflexao dos valores "democráticos" que imperam na Tugulândia.....
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