terça-feira, 2 de abril de 2013

Agricultura capitalista chegou ao vale da Vilariça...

Há anos que vaticinámos que o vale da Vilariça haveria de ser comprado por duas ou três grandes multinacionais agrícolas, para a seguir aí enfiarem uma agricultura extensiva de transgénicos e afins, a agricultura capitalista, assente na maximização dos lucros à força de químicos e muita água. Sim, porque uma vez acabado o plano de regadio pago com fundos públicos e comunitários (que agora estamos a amargar), era tempo de virem as sanguessugas para a colheita. Bastava-lhes uma observação por GoogleEarth para perceberem que todas as manchas verdes e que valem a pena têm de lhes ir parar às garras. Para já, é o capitalismo caseiro (a Sonae...); de futuro, esperem pelos espanhóis, chineses e afins... Esqueçam as "associações de produtores" locais. Basta perguntar: e para onde é que estes vendem? - Resposta: para as grandes superfícies. Logo, se o capitalista Belmiro lhes fecha as torneiras porque irá expandir a sua produção própria, e se combinar com outros comparsas a não aquisição de produtos às tais associações de produtores indígenas (sim, porque parece que o tempo do agricultor individual acabou), enfim, rebentam com o indigenato. Do mesmo modo que depois virá a multinacional a rebentar com os Belmiros, ou a comprar-lhes os feudos agrícolas, com os servos e tudo. - É este o "grande jogo" do séc. XXI, versão actualizada do velho jogo do Monopólio. 
Sempre disse que o Futuro é a Agricultura, pois é dela que vem tudo o que se come (e comer é viver). Mas também disse que essa agricultura não estaria nas mãos de agricultores independentes e livres de antanho. Viriam os novos feudais, as novas "casas grandes", agora já não ao nivel da Aldeia, mas sim sedeada algures.  Percebem agora qual o objectivo desta política de despedimentos em massa? percebem agora as tiradas de Ulrich's, Belmiros e quejandos? Percebem que numa situação de miséria, "eles" virão trabalhar para nós de borla (pela malga de caldo) na apanha dos pêssegos, ameixas, tomate, morangos, etc., em todos os vales da vilariça deste país? - Ou ainda não tinham chegado lá? - Eu, por mim, já cheguei, e apenas relembro do lendário medieval que, sempre que houve sherifes de Nottingham, sempre houve Robins Hood's e florestas de Sherwood...

Agora batam palmas à notícia:


«Sonae já tem 50 ha de pêssegos no Vale da Vilariça

Publicado às 00.33h - 2013-04-02

GLÓRIA LOPES

Na região de Bragança há um espaço de excelência agrícola, o Vale da Vilariça, onde os produtores se estão a organizar para melhor tirar partido dos investimentos ali realizados, sobretudo, no regadio.
Há uma mudança silenciosa a acontecer no Vale da Vilariça. Na zona produz-se a melhor fruta do país, graças ao índice Brix (concentração de açúcar medida com um refratómetro) que atesta a excecionalidade daquele território devido ao solo e às condições climatéricas de microclima. Os produtores estão a organizar-se. Criaram um agrupamento. Estão a avançar com a certificação DOP (Denominação de Origem Protegida) para o pêssego e o melão. A reforma da organização dos terrenos e relocalização das culturas está em marcha. O objetivo é produzir com a máxima rentabilidade apostando nas culturas certas, deixando de lado as tradicionais como o olival e a vinha. Até o empresário Belmiro de Azevedo, através de uma holding, comprou terrenos naquela, onde está a produzir pêssegos em 50 hectares. O vale é cada vez mais atraente para quem quer investir na fruticultura e na horticultura.

Ultrapassados que estão os problemas estruturais do vale, nomeadamente a falta de água para regadio, com a conclusão de três barragens, e as acessibilidades precárias, resolvidas com a abertura do IP2 e do IC5, neste momento, a grande luta é a necessidade de ter uma agricultura competitiva para ganhar escala e quota de mercado. "Nestes últimos anos tem havido a capacidade de tornar as potencialidades do vale em verdadeiras oportunidades", referiu Manuel Cardoso, diretor regional de Agricultura. Não é por acaso que tem havido grandes investimentos e que a produção é escoada diretamente para as grandes superfícies, com produtores que fazem parte dos clubes de produtores.
Só em investimento público estão em marcha projetos que ultrapassam os dois milhões de euros. Para o reforço da capacidade da barragem da Burga, a instalação de contadores controlados por telegestão, e um projeto para a reorganização das culturas do vale de modo a fazer unidades de produção maiores e homogéneas. Ainda reina o minifúndio. Os agricultores querem criar explorações maiores, com gestão única, agrupando vários produtores para reduzir custos na aquisição de fatores de produção, a gestão do parque de máquinas, contração de mão de obra especializada. "É preciso abertura de mentalidades para fazer isto", admite Fernando Brás, presidente da Associação de Beneficiários do Vale da Vilariça.

O vale já produz muito e bem, mas emperra na comercialização. "O lucro fica nas empresas que compram a fruta e fazem a normalização e comercialização", explica José Almendra, técnico da associação. "A fruta tem qualidade, mas é vendida nas grandes superfícies sem a identificação do Vale da Vilariça", acrescentou. Outra ambição passa pela transformação da fruta, com o aproveitamento de subprodutos, fruta sem calibre para comercializar em fresco, que representa 20% da produção total e que tinha como destino o lixo. Os agricultores querem criar uma unidade para fazer a desidratação e vender como fruto seco. "Temos que aproveitar ao máximo o que temos", sublinha Fernando Brás. »

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