quinta-feira, 25 de maio de 2017

Tachocracia, ou o mundo dos "boys"...

Há muito sabemos que "democracia" é a ditadura das maiorias. Só custa endrominar uns papalvos (gestão das expectativas dos ditos) para "chegar lá". Depois, porque "fomos escolhidos pelo povo", há que alimentar o "polvo". Aí vem a factura. O "apoiozinho" tem os seus custos. Há que promover "os nossos". Os "nossos" boys"/"girls", irmãos, primos, sobrinhos, parentes, afilhados, amigos, amigos de amigos, mas como não há merenda para tanta rapaziada que andou em campanhas e caravanas (por nós, claro!), há que se ser selectivo. Primeiro os que rendem mais votos e os "filhos de algo", os da nomenklatura social que se torna reinante... Por vezes, vai-se aquecendo o tacho na base de uns "estágios" temporários, na base do provisório que depois se passa a definitivo, sobretudo se ninguém diz nada. Claro que não há para todos, por isso depois faz-se a selecção com base nos tais critérios.
Seleccionar e recrutar com base no que é investimento necessário, de acordo com a transparência e mérito de cada um, sem se olhar a colorações ou filiações, neste tipo de "democracia" tuga, é uma utopia. Acreditar nisso, é o mesmo que acreditar no Pai Natal...

Andamos fartos de saber disto, mas...
... mas quando isto é dito com base em dados e referências, ganha outros foros. Aqui vos fica:


Cartão partidário? A garantia de uma carreira de futuro
25 Maio 2017



  1. Cristas foi a ministra que nomeou mais pessoal partidário
  2. PSD: CRESAP não quis impedir ligações dos cargos aos partidos
  3. Bilhim não “augura coisa boa” à CRESAP porque Governo “deixa andar”
  4. Governo diz que está a avaliar a eficácia da CRESAP
  5. Os mais escolhidos? Políticos. E homens
Se o objetivo era diminuir a influência dos partidos no Estado, a Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública não conseguiu evitar o favorecimento aos dirigentes da cor do Governo. Um estudo do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas demonstra que esta entidade independente não conseguiu travar a tendência histórica de colonização do Estado pelos aparelhos partidários. Uma tese sobre o mérito na administração pública, a que o Observador teve acesso — e que está à espera de publicação na revista científica daquela faculdade — demonstra que possuir cartão partidário aumenta de forma exponencial as probabilidades de nomeação. Metade dos militantes do PSD e do CDS que chegaram às short-lists dos concursos daquela comissão foram nomeados durante o Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
Na passada legislatura, dos 62 militantes do CDS cujos nomes chegaram à mesa dos ministros como tendo currículo adequado, 36 foram escolhidos para os cargos a que se propunham nos concursos da Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública (CRESAP). Isto significa que foram nomeados mais de metade dos centristas a chegar às short-lists finais, entregues aos governantes com os três nomes mais bem colocados após os concursos. A percentagem de 58% de militantes do CDS nomeados é mesmo superior à dos filiados no PSD, o maior partido da coligação do Governo. No caso dos sociais-democratas, dos 119 que passaram às short-lists, 58 ficaram com os lugares, o que representa a nomeação de 48,7% dos candidatos laranja que chegaram à fase final dos concursos.

A diferença é enorme quando estes valores são comparados com os dos militantes do PS que nos concursos passaram à finalíssima. Apenas 19 dos 102 nomes socialistas que tinham um currículo considerado adequado pela CRESAP — e que também foram aprovados na fase da entrevista — acabaram por ser nomeados. Ou seja, só 18,6% dos filiados no PS que chegaram às short-lists foram selecionados como dirigentes na administração pública pelo Governo PSD/CDS.

A vantagem de estar, como candidato, do lado do poder, percebe-se ainda melhor quando se analisam os resultados dos concursos a que se apresentavam independentes. Foram nomeadas 139 pessoas sem militância identificada pelo estudo, num universo de 468 independentes que chegaram às short-lists: a percentagem é de 27,9% de independentes designados. O número absoluto é mais elevado que o do pessoal partidário, mas os independentes nem chegam a ser um terço dos escolhidos em relação aos que concorreram.

O estudo, intitulado “Mérito e administração pública: a CRESAP e a escolha dos altos dirigentes”, também indica a existência de uma “discriminação” em relação às mulheres e conclui que “existe uma ampla discricionariedade na nomeação por parte dos responsáveis governamentais”. Trata-se de uma tese de licenciatura de Carina Correia, orientada pelo professor Joaquim Croca Caeiro, no âmbito do curso de Administração Pública. Segundo a autora do trabalho, “é no momento da nomeação que os membros do Governo, usando do seu poder 
discricionário, promovem a nomeação dos candidatos que integram a sua cor política”. 

Isto mostra que o modelo de seleção dos dirigentes da administração pública ainda tem “algumas falhas”: a CRESAP envia uma short-list com três nomes ao ministro que deve fazer a nomeação e que, em grande parte dos casos, escolhe aquele que é “da sua cor política”, com predomínio para o género masculino. Joaquim Croca Caeiro foi também ele nomeado vogal do Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social e era na época militante do PSD. Mais tarde sairia do PSD, mas na altura foi um dos nomeados com ligação partidária.

Este trabalho confirma a tendência identificada pela investigação do Observador publicada esta segunda-feira, sobre a partidarização dos dirigentes da Segurança Social e do Instituto do Emprego e da Segurança Social: há uma colonização do Estado e uma alternância quase perfeita de militantes do PS, PSD e CDS nas estruturas de topo e intermédias.

(continua)

Vale a pena ler o resto, aqui, no "insuspeito" Observador:

http://observador.pt/especiais/cartao-partidario-a-garantia-de-uma-carreira-de-futuro/

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