O fénómeno começou há muito tempo, na era do bem-estar. E quanto mais bem-estar, mais hedonismo e comodismo, a par da preocupação com a "carreira". A chamada "libertação da mulher" também ajudou. São factos. Quem não se lembra das baixíssimas taxas de natalidade dos nórdicos, que os mesmos compensavam com a adopção de criancinhas que importavam dos países mais "atrasados" (tipo Portugal) e Terceiro Mundo? Havia redes especializadas até para isso. Era como quem mandava vir um bichinho de estimação para preencher os vazios existenciais deixados pela fixação nos "objectivos" carreiresco-profissionais, assim como pela opção das mulheres não quererem engravidar porque depois ficavam deformadas, ou ainda por opções sexuais hoje muito bem vistas e modernaças (se é que não radicam em anomalias somáticas ou bio-psíquicas). Obviamente que não falo dos comuns casos de esterilidade que sempre houve desde os tempos bíblicos.
Agora, a juntar a isso tudo, veio a Crije... Razões bem menos prosaicas se juntaram às anteriores. O MEDO que se apoderou das sociedades europeias (e em breve o fenómeno baterá igualmente às portas da América), sobretudo nas economias mais débeis. É o medo que decorre do neo-liberalismo selvagem: o medo de ser despedido a qualquer momento, de não ter dinheiro para pagar a renda da casa e a comida, ou seja, sustentar uma família dentro dos agora normais padrões de conforto (claro que as pessoas da etnia cigana não se preocupam com isso, pelo que continuam prolíferos como coelhos).
Esse medo tolhe-nos, faz-nos pensar mais que duas vezes. É que se tivermos de ir comer gafanhotos e regressarmos aos níveis pré-históricos da recolecção, pensamos que lá haveremos de nos safar. Mas, se tivermos que sustentar uma família, nestas condições, seguramente é mais difícil. E vemos instalar-se quotidianamente o "salve-se quem puder!"
Nestas condições, não há lugar para romantismos (até a libido se vai, quando muito transformada num hedonismo sem limites, tipo "últimos dias" de Pompeia ou de Roma, de Sodoma ou de Gomorra) e muito menos para procriacionismos. Como, depois, criar a "cria", para já não falar em "prole", que era coisa de outros tempo? Caíu o pano, neste Ocidente decadente.
Se a demografia é a base de qualquer economia, nós, os chamados europeus (= branco caucasiano), já éramos. Mas, como nas sociedades humanas como na física, a Natureza tem horror ao vazio. Assim, outros virão ocupar o nosso lugar. Já por aí andam: chineses, indianos, africanos, etc.. É o multi-culturalismo. Nos tempos do império Romano, chavam-lhes bárbaros. Como são menos exigentes, serão mais prolíferos. Eles são a "Nova Europa", os novos "europeus". As "idades médias" são o tempo que leva a barbárie a adaptar-se à Civilização.
Pode ser que um dia ocorra depois um Renascimento, e esses, os do Futuro, se lembrem desta Humanidade extinta, como os homens de Neanderthal. Ou, no mínimo, nos vejam como uma espécie de Atlantes ou de romanos que conheceram uma Idade do Ouro. Seja uma coisa ou outra, sou um destes, em extinção.
Provas do que afirmo?? - A realidade está à vista, mas será melhor ler o que dizem os doutos, que eu cá não passo de um pobre Zé da Aldeia:
«Investigadora: Ser pai ou mãe tornou-se "muito exigente" e
causa angústia
A tarefa de ser pai ou mãe tornou-se
"muito exigente", causando angústias que podem levar ao adiamento da
parentalidade, defendeu hoje a socióloga e investigadora Vanessa Cunha,
responsável por um estudo que será apresentado na quinta-feira.
A decisão de ter filhos "tornou-se qualquer coisa de muito exigente,
parece que temos de ser muito qualificados em termos parentais para assumir
este compromisso", disse à agência Lusa Vanessa Cunha do Instituto de
Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Actualmente, "há muitas pessoas que sentem insegurança acerca se vão
saber ser pais, se vão conseguir exercer convenientemente este papel", ao
contrário do que acontecia na geração anterior em que a parentalidade era
"assumida mais naturalmente, sem este tipo de angústias e
incertezas", explicou.
Vanessa Cunha é a investigadora responsável pelo estudo "a intenção de
ter crianças e o adiamento em tempos de incerteza", realizado em parceria
com o centro de investigação da Universidade de Évora e que será apresentado na
quinta-feira.
Este projecto pretende ajudar a compreender o adiamento da parentalidade em
Portugal, tanto do segundo filho, o que já vinha acontecendo há alguns anos,
como do primeiro, o que é uma situação recente.
"O que temos desde os anos 50 é o adiamento da vinda do segundo filho o
que faz com que seja tão visível a questão do filho único na sociedade
portuguesa", um traço distintivo em relação aos vizinhos culturais da
Europa do sul, explicou Vanessa Cunha.
Mas, a geração que nasceu entre 1970 e 1975 "já tem um adiamento
intenso do nascimento do primeiro filho" e, num inquérito realizado em
2010, quase 30% dos homens e 20% das mulheres ainda não tinham tido filhos,
segundo Vanessa Cunha.
A investigadora referiu que são muitas as razões para o adiamento da decisão
de ter filhos, sendo "a insegurança financeira a questão central em
jogo".
Sendo uma decisão de longo prazo, a análise não fica pela situação económica
e é cada vez mais ponderada não só em termos individuais, mas também de casal e
o estudo vai analisar como as divergências são negociadas e como podem levar ao
adiamento.
O facto de as conjugalidades "serem hoje consideradas, à partida,
qualquer coisa que pode não ser para a vida toda conflitua com a ideia de que a
parentalidade é para a vida, acha-se que ter filhos continua a ser um projecto
que deve ser vivido a dois", explicou.
A insegurança e incerteza laboral e de políticas públicas na área da
família, com perda de direito a benefícios como os abonos, a dificuldade de
conciliação entre vida profissional e vida da família e a falta de apoio de
familiares, principalmente dos avós, são outras razões para as dúvidas.
"Este adiamento também torna a questão da transição para a
parentalidade numa luta contra relógio e muitas vezes já enfrentam outras
dificuldades, ao nível da fertilidade. Muitas vezes querem um segundo filho e
já não conseguem", alertou ainda Vanessa Cunha».
in: Notícias ao Minuto - ver aqui: http://www.noticiasaominuto.com/pais/77515/ser-pai-ou-m%c3%a3e-tornou-se-muito-exigente-e-causa-ang%c3%bastia
Caro Zé, só mesmo na Aldeia se pode ter uma visão tão abrangente do Mundo e do Futuro. O Mia Couto dizia o outro dia que nesta era de aldeia global o que perdemos são as aldeias e os lugares, eu acrescento que o Genius Loqui do Gaston de Bachelar desencarnou e deixou-nos com um moderno "Lugar Nenhum" (Utopia) do Thomas Moore, mas se esse tinha uma visão socialista e ordenadora esta Utopia assemelha-se mais ás visões de Dante.
ResponderEliminarCumprimentos para a Aldeia.
Caro Paulo,
EliminarSabes que a Aldeia era o velho reduto da sabedoria popular, e a Montanha, o último reduto da resistência e também dos filósofos, tipo Zaratrusta, como o sabia Nitzsche. Daqui vê-se melhor o (i)mundo, como também se vêm melhor as estrelas (sem a poluição visual e o clarão das cidades). Mesmo no tempo do Eurico (o presbítero de Herculano), ele viu melhor, a partir do mísero presbitério de Carteia e do viso mais alto do Calpe, o que estava para acontecer (e aconteceu em 711...). Quanto a esse "Lugar nenhum" gerado pelas sociedades contemporâneas, prefiro a expressão "Não lugar" de Marc Augé. É que no conceito de Thomas Morus, a Utopia dele ainda comportava um Ideal, uma Esperança. Hoje acho que ninguém a vislumbra, como alternativa a tudo isto e a esta vasta sucessão de "não-lugares" gerada pela "Civilização". Se calhar o "arrefecimento" económico foi ditado pelo instinto de Gaya (1), para protecção planetária. Quiçá... É que há mais mundo para além do Homem.
Com uma abraço cá do Zé.
(1)- ah, quanto a isto de Gaya, não confundir com Vila Nova de Gaia! - Procura a Teoria de Gaya, de James Lovelock. E, no seguimento desse (já antigo, anos 70), lê depois "A vingança de Gaia" (mais recente) - existem em português. Depois fazemos uma tertúlia a discutir isso. Abrçº. Z.