quinta-feira, 26 de maio de 2016

Quando a Aldeia se torna putrefacta...

Da Aldeia os bons partiram há muito. Eram os mais capazes, os mais inteligentes, os mais sensatos. Os que ainda restam (ou restavam), ou iam aparecendo, anunciam-me que não tardam a partir. Alguns partiram para sempre, para o Além, jazem no campo santo... Manel, meu bom Amigo, lá onde estejas, sei que estás a ler-me e a sorrir... Só os filhos da puta não morrem, porque o Mal, esse é eterno. O veneno os conserva... E à medida que a Aldeia minga, que os empregos disponíveis (para não falar dos "tachos"), ou as oportunidades para esmirfar a teta da vaca da junta de freguesia, ou os dinheiros públicos, vão escasseando, mais os chicos-espertos olham de través para os que ainda restam que lhes possa fazer sombra. Na terra dos cegos, esses que se julgam com um olhinho vivo e pé ligeiro, de coluna vertebral mais do que dúctil, serpentina, almejam ser os reis. E entram a odiar de morte aqueles que eles sabem que têm dois olhos e lhes topam o jogo. Nem precisam de fazer sombra: basta saber que lhes topam o jogo. Além dos pobres homens e mulheres que trabalham e vão vivendo a sua vida, eram os puros, os honestos de antigamente, em extinção, a acabar no lar da terceira idade, há uns típicos papalvos ditos de "classe média", outros uns valdevinos que nada fazem mas com pretensões a intelectuais e que não suportam quem, no entender deles, os não deixam "brilhar" e estender-se ao comprido no sol dourado da "sua" Aldeia. Tornando-se bichos muito territoriais, tentam apoderar-se da Aldeia, consideram-se donos dela, e daí ao "vai lá para a tua terra!", mal pressentem que alguém dos que eles odeiam tem o handicap de não ter nascido no seu curral. Às vezes disfarçam, usam a tal duplicidade que lhes advém da dita ausência de coluna vertebral: pela frente uma coisa, por trás são outra. Então, à mínima questão, o verniz estala-lhe e o veneno vem ao de cima. E como lhes falta o intelecto (apesar de terem pretensões a tal), partem para a força e para a violência, aspirando assim à categoria de heróis que conseguiram correr com o cão que não tinha o mesmo cheiro - também é uma questão de feromonas... - O "bairrismo" é a expressão da territorialidade animal teorizada por K. Lorenz.
O grande mérito de Rentes de Carvalho foi o de ter desmistificado a Aldeia... sim, nós também a fantasiámos, a enaltecemos, a defendemos como reduto de todos os valores positivos, por oposição ao mundo cão exterior. Ingenuidade... - Como bem a pintou Rentes (basta ler "Ernestina", esse livro cruel), a Aldeia não é idílica; é violenta, pérfida, velhaca, invejosa, intriguista, conspirativa, delatora, chantagista, e sei lá de que mais é capaz para trucidar aqueles em que, basta um, ou uma, ponha a mira. Sim, pode haver uma excepção ou outra, mas não passam disso mesmo: excepções! - As tais que vão partindo, e desguarnecendo a Aldeia do sentido crítico positivo, ou seja, de sensatez. 
Nestes tempos de fome, de finitude, em que área do pantanal se vai reduzindo e o esterco concentrando, parece que a violência e o veneno se concentram também, tornando a Agressividade exponencial contra os que eles sabem que não são "dos seus". - Daí ao animalesco "vou-te correr daqui pra fora", é um passo... - E não adianta andarmos a cobrir isto com florinhas primaveris... 
Não há flores que nos salvem e disfarcem o cheiro putrefacto que se exala destes mundos em extinção... Não há remissão possível. Mas, partir, é fazer-lhes a vontade e, isso sim, seria um acto de cobardia. Ficar, talvez seja um exercício de masoquismo, mas a resistência não é para os fracos....







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