Andou algo desaparecido por
uns tempos. Ou por outra, foi deambulando por aí: pelo Vale do Sabor, passeando
por avenidas novas, devorando terrincho queijo lá pelas bandas da Vilariça, ou
enlambuzando-se do que resta(va) do património vernacular das nossas moribundas
aldeias… sempre com a condescendência autárquica, pois que, “coitado do home”,
tem direito às melhores condições de vida, e as tintas Robbialac , assim como a
CIN, também precisam de viver. Cá agora a m**** das pedras velhas, sem jeito nenhum!... Querem a gente cá como índios
da reserva!
Agora, reapareceu cá pela
vila, voraz, como sempre. Há que alinhar! Tem que se alinhar! Se alguém não
alinha tem que se meter na linha! Tem cuidado… está calado… fazes melhor… deixa
correr… já sabes o que te aconteceu… ainda não ganhaste juízo… não te
manifestes… deixa que outros o façam… e se ninguém disser nada é porque está
tudo bem… eles é que sabem. – É a voz dos amigos, dos que sabem viver, dos que
vão longe…
Vejo a asneira e o disparate
a caminho, a casmurrice e, quiçá, o látego e o gládio, se perseverar em dizer o
que vai na alma. Tento a via pedagógica: explicar o porquê do interesse em
preservar o pouco que ainda sobra de autêntico, em termos de edificações
multisseculares, testemunhos vivos de uma terra com Passado. E onde, curiosamente,
este até é incorporado no discurso político-económico.
Para mais, quando associado
a esses velhos edifícios, habitáculos de cristãos-novos à entrada de judiaria,
consta que nasceu a mãe de um candidato ao trono de um reino moribundo, há mais
de quatro séculos atrás… Personagens trágicas anunciando a tragédia de verem
apagada a mais remota pegada de um destino. Antigos depoimentos corroboram essa
tradição. E, curiosamente, estas personagens de excepção têm vindo a ser
recuperadas como bandeira de uma nova política assente no binómio
economia-cultura! E depois parece que pretendem deitar fora a criança com a
água do banho!
Destruir o autêntico e, em nome
da tal “monomania dos alinhamentos” imprecada pelo A. de Baçal há mais de um
século, inventar pastiches, e tentar
depois vender como do século XVI imitações toscas do século XXI. Nunca
pensámos que cerca de 150 anos após a gestação da Teoria do Património, em vez
de evolução assistíssemos a uma involução… Assim, tudo nos leva a crer que o
modelo cultural-económico que o novo poder eleito nos traz é o de "Disneylândias” de pechisbeque.
Talvez faça a tentativa
derradeira de ser “pedagógico”. Mas acredito pouco na abertura a diálogos
quando as decisões soam já a muito definitivas na cabeça de quem manda.
Todavia, em consciência, não posso deixar de o fazer. Se esbarrar contra o muro
de betão da intransigência retirarei daí as devidas ilações. O que não posso é,
pela manhã do dia seguinte, não conseguir olhar de frente o indivíduo que me
aparece do outro lado do espelho, acusando-me de qualquer espécie de cobardia
ou de conformismo. Isso seria sinal de que já estaria definitivamente morto.
Sem comentários:
Enviar um comentário