segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Modernices: a tal de “Coadopção”

Anda por'i  um burburinho por cauja de mais uma dechas moderniches, que vem no cheguimento da legitimação de chertas coijas, que dantes, cá pela Aldeia, terra de homes de barba rija, eram tidas por paneleiriches, e olhadas de través... Mas êches alguns (e algumas) com chertas tendênchias, rumaram à capital, apoderaram-che da Comunicachão Chochial (atenchão: tchochial, pois tem mais a ber com tchochiches) , e, bai daí, agora proclamaram-che os maiores do mundo e arredores, e eles é que chão anormais, e o anormal, qualquer dia, cheremos os que gostamos de gaijas...
Que o mundo está tolo já a gente o chabe... Mais que mundo, tornou-che Imundo, com toda a espéchie de porcarias...
Pois bai daí, que lá pela Lísbia, ainda há uns homes de barba rija, que não bão nestas moderniches, e apejar de acabarem jurjidos pela corja da rabicholage e fufalhada, dá-lhes pau do grande.
Goste-che ou não do home, o gaijo tem-nos no chítio! É cá dos nóchos, um dos à maneira antiga!

Ora aqui bai:


Modernices: “Coadopção”
Por Marinho e Pinto


«O que se está a passar em Portugal com o debate da coadopção revela a anomia cívica da nossa sociedade e, sobretudo, a degradação a que chegou o nosso regime democrático.

Um sector ultraminoritário da sociedade, que age como uma seita, impõe arrogantemente as suas certezas e insulta e escarnece dos que exprimem opiniões diferentes.

O fanatismo heterofóbico dos seus prosélitos leva-os a apelidar de "ignorantes", "trogloditas" ou "homens das cavernas" todos os que ousam pôr em causa as suas certezas.


O que se viu no programa Prós e Contras da RTP, na semana passada, foi a atuação de um grupo bem organizado de pessoas lideradas por um fanático que, no intervalo do programa, subiu ao palco e se dirigiu a mim para me dizer que eu estava a usar no debate os mesmos métodos que os nazis tinham usado contra os judeus (!!!).


Esse delírio injurioso foi depois retomado em alguns órgãos de comunicação social, blogues e redes sociais, por outras pessoas imbuídas do mesmo fanatismo e da mesma desonestidade intelectual. 


Já, em tempos, uma das próceres da seita, a dra. Isabel Moreira, me chamara PIDE, para assim "vingar" a atual ministra da Justiça das críticas certeiras que eu lhe dirigia.

Afinal, parece que é nazi dizer que o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) atua como um lobby que influencia os centros de decisão política devido à preponderância que muitos dos seus elementos têm no Governo, no Parlamento, na Comunicação Social, nas empresas e nos partidos políticos.


Sublinhe-se que os partidos de Esquerda aprovaram a lei sobre a coadopção exatamente no momento em que o povo mais preocupado (distraído) está com a austeridade que lhe é imposta pelo Governo e pelo presidente da República.


Foi, portanto, assim, à sorrelfa, com a ajuda cirúrgica da Direita, que se aprovou uma lei que ofende a consciência da esmagadora maioria da população.

O que se viu naquele programa da RTP foram exercícios de manipulação, de intolerância e de vitimização por parte dos defensores dessa lei e quem manifestou opiniões contrárias foi sumariamente apelidado de "ignorante" ou então brindado com estridentes risadas de escárnio. 


Eu próprio fui, no final do programa, veementemente apelidado de ignorante pelo líder da seita e por algumas histéricas seguidoras que o rodeavam.


O casal de lésbicas que ali foi exibir triunfantemente a gravidez de uma delas e proclamar o seu orgulho por a futura criança ser órfão de pai é bem o exemplo da heterofobia que domina a seita. 


Que direito tem uma mulher de gerar, deliberadamente, por fanatismo heterofóbico, uma criança duplamente órfã de pai (sem pai e sem nunca poderem vir a saber sequer a identidade dele)?


Com que fundamento o Estado se prepara para entregar a essas pessoas crianças que, por tragédias familiares, perderam os seus verdadeiros pais? 


É para que sejam destruídas (ou impedidas de nascer), no imaginário dessas crianças, todas as representações que elas têm (ou possam fazer) do pai ou da mãe que perderam?


Esse fanatismo mostra bem o que essas pessoas são capazes de fazer em matéria de manipulação genética com fins reprodutivos - como, aliás, uma das lésbicas deixou subtilmente anunciado no Prós e Contras. 


Mas isso será mais tarde.


Para já o que importa é garantir que, em nome da felicidade onanística de alguns adultos, se possam entregar crianças a "casais" em que o lugar e o papel da mãe são desempenhados por um homem e os do pai por uma mulher.


Seguidamente, para não discriminar os gays e as lésbicas, substituir-se-ão nos documentos oficiais as palavras "mãe" e "pai" pelo termo "progenitores", tal como já se substituíram as palavras "paternidade" e "maternidade" pela neutra "parentalidade".

E quando estiver concluído o processo de "engenharia social" em curso, então passar-se-á à engenharia reprodutiva com vista a permitir que duas mulheres possam gerar filhos sem o repugnante contributo de um homem ou então que dois homens o possam fazer também sem a horrorosa participação de uma mulher.


Estarão, então, finalmente, corrigidos dois "erros grosseiros" da evolução: o de ter dividido os seres humanos em dois géneros e o de exigir o contributo de ambos para a fecundação e para a criação dos seus filhos. (MP)»



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Um inferno para os outros... mas um PARAÍSO para eles!...

E no seguimento do nosso último post, aqui vos fica mais esta...
Já agora, Deputados ou Deputedos???...

«2014 aumento global de 4,99% nos vencimentos dos deputados!
Dá para acreditar?
Precisamente no dia em que recebemos a informação sobre a CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade) que de extraordinária não tem nada.
Leia com atenção sobre este abuso descarado...
 Foi aprovado por unanimidade! Ninguém na Assembleia da República contestou !!!!!
Ninguém na Assembleia da República, da direita à extrema esquerda, contestou.  
É ou não possível haver unanimidade? É sim, senhor:
se foram eles os beneficiários…
A notícia é mesmo verdadeira e vem no Diário da República.

O orçamento para o funcionamento da Assembleia da República foi já aprovado em 25 de Outubro passado. Fomos ver e notámos logo, contudo já sem surpresa, que as despesas e os vencimentos previstos com os deputados e demais pessoal aumentam para 2014.

Mais uma vez, como é já conhecido e sabido, a Assembleia da República dá o mau exemplo do despesismo público e, pelos vistos, não tem emenda.

Em relação ao ano em curso de 2013, o Orçamento para o funcionamento da Assembleia da República para 2014 prevê um aumento global de 4,99% nos vencimentos dos deputados, passando estes de 9.803.084 € para 10.293.000,00 €.

Mais estranho ainda é a verba relativa aos subsídios de férias de natal que, relativamente ao orçamento para o ano de 2013, beneficia de um aumento de 91,8%, passando, portanto, de 1.017.270,00 € no orçamento relativo a 2013 para 1.951.376,00 € no orçamento para 2014 (são 934.106,00 € a mais em relação ao ano anterior!).

Este brutal aumento não tem mesmo qualquer explicação racional, ainda assim fomos consultar a respectiva legislação para ver a sua fórmula de cálculo e não vimos nenhuma alteração legal desde o ano de 2004, pelo que não conseguimos mesmo saber as causas e explicação para tanto..

Basta ir ao respectivo documento do orçamento da Assembleia da República para 2014 e, no capítulo das despesas, tomar atenção à rubrica 01.01.14, está lá para se ver.

Já as despesas totais com remunerações certas e permanentes com a totalidade do pessoal, ou seja, os deputados, assistentes, secretárias e demais assessores, ao serviço da Assembleia da República aumentam 5,4%, somando o total € 44.484.054.

Os partidos políticos também vão receber em 2014 a título de subvenção política e para campanhas eleitorais o montante de € 18.261.459.

Os grupos parlamentares ainda recebem uma subvenção própria de 880.081,00 €, sendo a subvenção só para despesas de telefone e telemóveis a quantia de 200.945,00 €.

É ver e espantar!

Caso tenham dúvidas é só consultarem o D.R., 1.ª Série, n.º 226, de 21/11/2013, relativo ao orçamento de 2014, e o D.R., 1.ª Série, n.º 222, de 16/11/2012, relativamente ao orçamento de 2013»,

E, goste-se ou não da personagem, apetece concluir com Saramago:


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"Transparência": O segredo dos privilégios dos políticos já é lei!

Transparência? Qual transparência???
Pelos vistos já corre pela Aldeia há algum tempo, mas só agora nos chegou às mãos, pelo que aqui o afixamos cá na praça do lugar.
Vejam:



Assunto: Lei 64/2013. Vergonhoso !

"Se os lobos contagiam a massa, um belo dia o rebanho transforma-se em horda" -  Ernst Junger

Até onde chega a falta de vergonha. Só há uma saída... corrê-los a pontapé!


MOVIMENTEM-SE ! PASSEM PALAVRA - é a LEI 64/2013 de 27 de Agosto.

O segredo dos privilégios dos políticos já é lei.

Já tem a forma de Lei nº 64/2013, de 27 de Agosto, o sigilo dos
privilégios dos políticos e foi hoje publicado no Diário da República.

Portanto, por protecção da lei agora aprovada pela Assembleia da República,
com os votos favoráveis do PSD, CDS/PP e do PS*, passaram a ser secretos
os privilégios dos políticos.

Vejam-se, neste caso e segundo esta lei, por exemplo, as chamadas pensões
de luxo atribuídas aos ex-políticos (ex-deputados, ex-Presidentes da
República, ex-ministros e ex-primeiros-ministros, ex-governadores de Macau,
ex-ministros da República das Regiões Autónomas e ex-membros do Conselho de
Estado) e os ex-juízes do Tribunal Constitucional, passaram a ser
escondidas do povo português.

A partir de agora e na vigência desta lei, os portugueses e contribuintes
ficam a desconhecer quem são e quanto recebem financeiramente do erário
público e do orçamento geral de estado os ex-políticos e governantes.

O que é o mesmo que dizer que os políticos e governantes passam a poder
decidir secretamente entre eles a atribuição a si mesmos dos benefícios,
regalias, subsídios ou outras mordomias, sem que os portugueses, o povo
português portanto, ou até mesmo os tribunais, tenham direito a saber o que
os políticos fazem com o dinheiro que é de todos nós.

De facto e de lei, passou a haver uma qualidade superior de sujeitos, ao
caso os políticos, governantes e juízes do tribunal Constitucional, que
estão isentos do escrutínio público, não se encontram mais obrigados a
revelar as fontes, as origens e a natureza dos seus rendimentos de
proveniência pública, ou seja, que fazem com o dinheiro público o que muito
bem entendem e não estão obrigados a prestar contas públicas do que fazem.

Lida esta nova lei tive de socorrer-me do Código Penal, onde fui encontrar
semelhantes comportamentos e condutas nos dois artigos 308º e 375º do
Código Penal, respectivamente o crime de "Traição à Pátria" por abuso de
órgão de soberania e o crime de "Peculato".

Triste república esta em que vivemos, a delinquência já tem protecção de
lei !

* Os tais do arco do poder....

domingo, 19 de janeiro de 2014

A NOVA CENSURA

Esta é a "democracia" que temos... os novos "cães de guarda" do regime, a soldo das grandes negociatas, tratam de amordaçar e silenciar quem ousa denunciar o seu "admirável mundo novo", o dos meandros do capitalismo neoliberal do "quanto menos Estado, melhor Estado"... 
Destruir o sistema público, seja na Saúde e da Educação (os últimos baluartes de abrangência social e de igualitarismo de oportunidades e possibilidades) é o 1º passo para abrir caminho para a PRIVATIZAÇÃO de TUDO!!! - e a privatização tem por objectivo os negócios chorudos de alguns (os amigos deste sistema político) e a condução a um sistema em que quem tem dinheiro tem Saúde, Educação, e tudo o mais o resto... Os restantes serão lixo social e resíduos humanos... É este o "novo modelo social" neoliberal...
... e ai de quem se atravesse no caminho deles e os denuncie... Caso para perguntar, qual democracia, qual c*******!!

Para o ilustrar, aqui fica o "Caso Ana Leal" - esta mulher merece uma subscrição nacional para a sua defesa, pela coragem e pelo resultado dessa coragem, por parte de todos os que ainda não fomos amordaçados:


Ana Leal foi a jornalista que recentemente ousou fazer uma reportagem na TVI mostrando como o governo está a utilizar os “dinheiros públicos” para subsidiar o ensino privado, e a faltar-lhe para continuar minimamente a investir e a manter a escola pública acessível a todos com dignidade, qualidade e transparência. 

Esta reportagem custou-lhe o posto de trabalho, tendo sido imediatamente despedida
Quase ninguém soube. O silêncio tem sido total. Será que estamos a ficar todos “amordaçados”? 
 Até quando vamos permitir que continuem a violentar-nos desta maneira? Quando vamos acordar?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Corrupção e promiscuidades no sistema político tuga...

O tema é de todos nós bem conhecido e todos sabemos/sentimos que é assim.
Mas em todo o caso, aqui fica uma Antologia que corre pela "Aldeia".
Obrigatório ver, no final, a denúncia do Grande Paulo Morais... That balls!....


Não vale a pena dizer mais nada, procure as formiguinhas e vejam como eles pululam de lugar em lugar, e oiçam o homem, num heróico depoimento feito na AR.
Só os ingénuos acreditarão ser possível o poder político manter-se independente do poder económico.
A reportagem anexa, saída em 22/12/2013 no Caderno 2 do Público, explica a promiscuidades dos dois poderes: Conflito capitalista Publico 22-12-13.pdf

E como complemento, ver este “Passatempo”:  http://pmcruz.com/eco/

 
E para completo esclarecimento, ver depois o vídeo que nenhuma das nossas televisões deixou passar (a lei da rolha desta democracia anestesiada)

 Paulo Morais na Assembleia da República...

Será que ninguém o ouve??

 Você ouviu alguma noticia sobre isto
nalgum telejornal de alguma televisão?
Não ouviu, nem viu, pois não?! 
São 15 min. de verdades.
O caminho para a ditadura é lento, vai-se matando a democracia aos poucos ... devagar se vai ao longe, assim nos levam os partidos da nossa terra... 
 


 



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Governo? - visto por A. Lobo Antunes

Esta é do A. Lobo Antunes, e está muita boa!!!

«Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas crónicas e a pergunta surpreende-me sempre. Qual Governo?
 
É que não existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento.

Existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro.
Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé?
É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal»

António Lobo Antunes

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eusébio - luto e rescaldo II

Já depois do nosso post anterior, mão amiga fez-nos chegar este artigo de Henrique Monteiro, jornalista do Expresso:

«Líderes parlamentares? Deixem-me rir!
Henrique Monteiro, Expresso
 
8:00 Quinta feira, 9 de janeiro de 2014
 
A definição de um líder é a de alguém que exerce influência sobre o comportamento, pensamento ou opinião dos outros. Àqueles políticos que seguem a opinião da turbamulta e dos ventos do momento chamam-se, no geral, oportunistas.
Ontem, os líderes parlamentares discutiram a trasladação do corpo de Eusébio para o Panteão; mas, para cumprir a Lei, terão de esperar um ano para aprová-la.
Aquando do falecimento de Amália, os "líderes" eram outros e fizeram mais ou menos o mesmo, conseguindo uma coisa espantosa: alterar um decreto de 25 de setembro de 1836, assinado por Passos Manuel, para diminuir o tempo que devia mediar entre o falecimento e a honra de ir para o Panteão. Achou Passos Manuel (e a Rainha D. Maria II assinou) que esse período deveria ser de cinco anos. Os nossos deputados, em 2000, acharam que um ano basta. Eu pergunto: hoje, não bastará uma semana? Um grito, que seja, de um cidadão emocionado não chega?
Irrita-me solenemente as leis em Portugal serem adaptadas à medida dos acontecimentos. Se o Parlamento sabe que não pode decidir antes de um ano por que agendou para ontem essa discussão? A resposta é: oportunismo, populismo e falta de liderança!
Há 164 anos todas as personalidades tinham de ter falecido há mais de cinco anos para que o Parlamento decidisse sobre a sua presença no Panteão. Por que razão se alterou a lei para Amália Rodrigues? A resposta é: oportunismo, populismo e falta de liderança!
Até parece que tenho qualquer coisa contra Amália (nada, pelo contrário, foi uma cantora fora de série) ou Eusébio (deu-me muito mais alegrias do que a maioria dos portugueses). Mas se pego nestes exemplos é só para sublinhar como este país se trata mal a si próprio e tem um Parlamento e uns líderes parlamentares que nem sabem liderar, nem sabem impor uma lei. É uma vergonha.
Como é uma vergonha que nomes como os que ontem aqui referi (e outros que me apontaram e concordo, como Aristides Sousa Mendes) não tenham quem no Parlamento os proponha, apenas por não haver quem na rua grite por eles. Como um comentador ontem escreveu a propósito do meu artigo: "Pessoa, Camões, Herculano estudam-se nas escolas. Não consta que se vá estudar Eusébio ou Amália". Os seus contributos para o país (nomeadamente no estrangeiro) foram grandes, foram enormes mas foram de qualidade diferente e, no caso específico de Eusébio - e sublinho sem o querer minorar -, não condizentes com o que a própria Assembleia da República decidiu em 2000: "As honras do Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade ".
Adaptar as leis às circunstâncias, às emoções momentâneas, aos oportunismos da caça ao voto é a melhor prova de que pouco aprendemos ainda sobre a qualidade da democracia e da racionalidade que ela tem de comportar. Dirão, somos latinos, somos emocionais. Eu respondo: tretas! Falta-nos quem não tenha medo de afrontar o ar do tempo!
 
Nota histórica: O Panteão Nacional congrega também a Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, onde estão sepultados D. Afonso Henriques e D. Sancho I; de início, consagrou-se como Panteão o Mosteiro dos Jerónimos, onde estão sepultados Camões e Pessoa, mas um decreto de 1916 mudou-o para o então "antigo e incompleto templo de Santa Engrácia", que, na verdade, só ficou concluído em 1966 (daí a expressão "isto é como as obras de Santa Engrácia"). Foi a partir de 1916 que se começaram a colocar os túmulos que ainda hoje lá estão e os cenotáfios que representam outros grandes vultos da História.»

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Comentário do Ti Zé:
Tem alguma razão o articulista, quanto à decisão de certas coisas a quente. Se havia um decreto de 1836 que regulava essas coisas panteónicas, acho que se deveria ter esperado, já no caso da Amália. 1836 foi um período bastante "esquerdista", ainda na Monarquia liberal (após a revolução de Setembro), pelo que, se mesmo assim, o decreto vigorou em vários regimes (Regeneração, 1ª República, Estado Novo, e mesmo durante todo o tempo pós-25/04), deveria continuar a manter-se. De facto só se explica a sua alteração nesse período extreme do "nacional-porreirismo" guterrista, com a tal dose de demagogia que o articulista aqui verbera.
Todavia, no artigo outro de sua autoria para o qual remete, respaldando-se noutros vultos que deveriam estar no Panteão e não estão, veladamente, se bem que vá admitindo a possibilidade, põe em dúvida a trasladação de Eusébio para o Panteão, o mesmo se passando com Amália, a quem chega a apelidar de "ovni"... Se o autor ler bem o que sublinhou, no artigo supra, verá, que, tanto um como outro (Amália e Eusébio), se enquadram nas personalidades que se distinguiram no campo das Artes... Se o Fado (hoje até Património Mundial!) não é Arte, e ainda por cima expoente da Portugalidade, então o que é Arte? (só a arte erudita dos intelectualóides?); mais difícil seria considerar-se arte (do ponto de vista intelectualóide) o Futebol. Mas, não deixa de o ser (e Eusébio, como todos sabem, foi um verdadeiro mágico da bola), sendo certo que, quando esses critérios que refere foram decretados (1836, 1916...) o futebol não era o que é hoje: o desporto das multidões e onde se prolonga essa "coisa" que hoje já não sabemos bem o que é (se algum dia se soube) que é o "patriotismo". E não fosse Portugal o "país da bola", que exporta (e importa) craques e grandes treinadores, alguns até a treinar outras selecções nacionais, como acontecerá no próximo mundial. E, indo ao encontro dessa realidade, eu que nem sou de futebóis, não acho mal que se faça essa representação no dito Panteão, porque Eusébio é, a meu ver, um dos deuses do nosso Olimpo Lusíada (até pelo que significa em termos de transversalidade lusófona) - Eusébio é muito mais do que o futebol, e o Dr. Henrique Monteiro, inteligente como é, sabe-o muito bem.
A meu ver, alguns dos que cita que estão no Panteão (e outros que sugere), se calhar não deviam lá estar (ou para lá ir), embora concorde com outros que menciona, como por exemplo, Aristides de Sousa Mendes. Tudo isto é algo subjectivo, como se sabe. Mas, sendo difícil retirar os que estão, concordo que se revejam as regras para futuras "entradas", tendo em conta a real importância das "personalidades de excepção", em termos do contributo para o país, sua projecção internacional, conduta exemplar e também, porque não?, unanimidade popular (referende-se, no caso de dúvida, sendo que "unanimidade", para mim, é mais de 80%). Se não deve ir para um panteão tudo o que é "cão e gato" (até por problemas de espaço, pois de outro modo ter-se-ia de se construir uma nova Santa Engrácia, e, no estado do Tesouro, tal duraria não 500, mas talvez 1000 anos a concluir!), dizia, se não devem ir para lá todos os supostos ilustres, também não se deve ser redutor ao ponto de se dizer que só lá devem figurar os que se "estudam na escola"...
Por último, há ainda um critério que se deveria ter em conta nisto da "panteonização": a representatividade socioprofissional.  Se os políticos já lá estão bem (ou mal) representados, os homens de letras idem, os artistas através de Amália, é bem que o Futebol o fique através de Eusébio. Para só falar das áreas até à data relevantes pelo seu peso social. Como a História não é estática, pode ser que daqui a umas décadas, outras áreas se salientem, e, se houver outro expoente nacional que se saliente a nível planetário, assim o povo queira (e não só uma clique de "ilustres") e tendo em conta as tais regras previamente definidas, porque não?
 
 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A morte de Eusébio – luto e rescaldo

«Ex-futebolista Eusébio, o 'Pantera Negra', morre aos 71 anos


Eusébio, a 'Pantera Negra', a lenda do futebol português, morreu na madrugada de hoje (5/01/2014), aos 71 anos.» - in: http://www.noticiasaominuto.com/pais/153832/eusebio-o-pantera-negra-morre-aos-71-anos#.UsvV_LCYavE




Comentário do ti Zé:
 
Mais do que um grande futebolista, o maior do seu tempo e, pretendem alguns, um dos maiores de sempre nesta modalidade desportiva, Eusébio era acima de tudo um símbolo de um tempo, uma época, de um outro Portugal. Era o Portugal da minha infância, eu que nunca o conheci, a não ser inicialmente por cromos que se comprava com um rebuçados baratos e se colavam numa caderneta, depois por fotografias de jornal, pelos relatos radiofónicos de futebol e pela televisão mais tarde. Eusébio era o símbolo de uma utopia que em dado momento sonhou um Portugal plurirracial e multicontinental, do Minho a Timor, e provou que isso até era possível.
 
Nem todos os “colonizados”, pelos vistos, desenvolveram essa “consciência nacionalista” que, segundo os clichés esquerdóides da época e de hoje, se impunha. Por isso, talvez, para esses, não passasse de um “renegado”, um colaboracionista, ou um simplório. Na verdade, foi um homem que apenas queria jogar à bola. Mais nada. E fê-lo muito bem, como se sabe. Que se integrou bem num mundo ainda exclusivamente de “brancos”, que era a “metrópole” de então, mas que dava sinais de querer integrar gente que vinha do seu ultramar, num tempo em que, por exemplo, na Inglaterra, ainda se vedavam as portas aos do seu antigo império, ou, por exemplo, nos U.S.A. se abatiam a tiro os que reclamavam igualdade racial (como aconteceu com um outro King, este de nome, Martin Luther). O “império” tuga acabou, Eusébio ficou. “Porque se sentia bem”, disse-o a M. Coluna, também Moçambicano, que por sua vez regressou à terra de sua naturalidade. 

Na verdade, este Homem, Eusébio, foi um grande Português, melhor do que muitos renegados que por aí andam e outros que andaram, pois que, como disse Camões, “sempre entre os portugueses,/ houve alguns traidores, /algumas vezes...” (muitas, diremos nós). Não são fingidas as lágrimas choradas na famosa derrota da selecção portuguesa em Inglaterra em 66. Seria só a natural amargura pela derrota num jogo de futebol que decidia um campeonato do mundo? Na verdade, o que é isso de “patriotismo”? Não sei, mas sei que nunca o Homem se apresentou de punho fechado e cabeça baixa, no momento de ouvir o hino nacional, como os atletas negros norte-americanos numas certas olimpíadas no México. Se calhar é isto, também, que alguns intelectualóides esquerdóides de então (e de hoje) não lhe perdoarão.

Eusébio era, de facto, um homem simples, mas não um simplório (mesmo a anedota dos tremoços tinha mais de carinho do que piada perversa). Acho que sabia bem o que queria, e o que queria ser. E, se no antes do 25/04 poderia haver quem pensasse que se sujeitava, porque queria era jogar futebol e ter o seu “lugar ao sol”, que dizer das imagens mais recentes, anos 90 e 2000 e tal, quando acompanhava a selecção nacional, e vibrava do mesmo modo. Dir-me-ão que era só o futebol que o fazia vibrar. Decerto, mas ninguém ignora que o tal de patriotismo hoje, acabado o tempo das grandes batalhas de lança e espada, ou a marchar contra os canhões, é mais nos relvados que se define…  E ele estava lá, a torcer por Portugal.

Foi um Português de corpo inteiro, e, como tal, agora que se discute a sua morada definitiva, é inquestionável o seu direito ao Panteão Nacional. Já vieram alguns intelectualóides também a questionar isso, e até a questionar para que serve o Panteão nacional (“Ninguém devia estar no Panteão Nacional”, disse-o Maria Filomena Mónica, apresentando-se como socióloga, talvez numa atitude de raposa e as uvas)…
Argumentou-se que isso de Panteão não faz sentido nenhum atento o facto de haver mais do que um, ou seja, os Jerónimos e a Santa Engrácia. Já agora podiam acrescentar a Santa Cruz de Coimbra (onde estão o Afonso Henriques e o D. Sancho), Alcobaça e a Batalha, por onde andam restos de outros reis. Sim, porque inicialmente só os reis tinham direito a túmulos de referência. Depois vieram os navegadores, poetas e outros escritores. E cada época teve o seu edifício simbólico. Se o actual é a Santa Engrácia (com a grande excepção do Fernando Pessoa), e se se consagra esse espaço como lugar sagrado de representação nacional, reservado por um colectivo aos seus heróis, porque não? A simbólica é um dado humano e universal, desde os monumentos “megalíticos”, as pirâmides, os mausoléus (palavra que vem de Mausolo, rei aqueménida do séc. IV, a.C. cujo túmulo foi uma das 7 maravilhas do mundo).

A morte democratizou-se, e já não é exclusivo de reis governantes. Por isso, em democracia, deve imperar a vontade popular, e, à parte algumas vozes discordantes, é inquestionável que, quer Amália, quer Eusébio, foram “reis” à sua maneira, reconhecidos nacional e internacionalmente, na sua arte. São uma forma de consagrar também o Povo na galeria ilustre de uma posteridade também física, findo que foi o domínio da aristocracia e da burguesia. Que tenham sido símbolos de um Portugal outro, é que não deixa de ser uma certa ironia, a que são alheios. O que ambos queriam era fazer muito bem, aquilo para que nasceram. Acabaram por ser aceites e integrados pelos dois tempos da História, o que só diz da sua superioridade e explica a transversalidade. No caso de Eusébio, uma transversalidade até transnacional e inter-continental , pois que, soube continuar a ser português, mantendo o vínculo com o seu Moçambique natal, hoje estado soberano, e conseguindo o respeito destes pela sua opção. Li por aí algures a expressão “luso-moçambicano”. Acho que diz tudo. Acabados os impérios e os imperialismos, morta a velha utopia, talvez seja tempo de se (re)pensar uma outra: a de um maior entendimento e cooperação entre os povos que a História em algum momento juntou, e deixar de remexer na caca, atirando mais lenha para a fogueira, como para aí li, ainda hoje, em certo jornal diário, por certo douto revestido de insígnia de “investigador do ICS-UL”.
 
Preferi ler antes, o depoimento do timorense Xanana Gusmão: “Inspirou várias gerações emtodo o mundo. Não morreu nas nossas memórias”. Só isto; é o que importa. Mas dito em Português, do outro lado do mundo, por alguém que, parece-me, também é do Benfica, esta multinacional commonwelth lusíada (e eu sou insuspeito em dizê-lo, pois prefiro o Verde).

Na minha linha de pensamento, concordo também com o epitáfio do Prof Carlos Queirós sobre Eusébio: “Foi um pedaço de um Portugal diferente, maior, sem fronteiras, multicultural. O seu trono não pode ser ocupado, porque o seu reinado não existe mais”.

Já no campo dos ressabiados, lá tinha de vir esta apreciação do sr. António Pedro de Vasconcelos (um dos da chub-chídiodependência): [Eusébio] “foi, sem querer, um símbolo para os portugueses do seu tempo”, porque, num tempo em que “ser português era sinal de opróbrio e de vergonha, Eusébio resgatou o nosso orgulho e devolveu-nos a dignidade” (in Publico, 2014.01.07). E hoje, sr. A-P. Vasconcelos? Hoje ser-se português (pior, Tuga, um protectorado ocupado por uma troika que nos faz pagar, ad aeternum, com língua de palmo, uma dívida perdulária), não é igualmente símbolo de opróbrio e de vergonha? Se calhar, à época, o sr. deplorava que houvesse um homem, ainda por cima de cor, vindo de “territórios indevidamente subjugados” andasse por aí a promover o nome do Portugal fascista… Daí que Amálias e Eusébios inicialmente até tivessem sido apodados de fascistóides, até os tentarem depois “recuperar”, de que esta tirada é exemplo ilustrativo. Que fique assente, que estas pessoas de excepção apenas queriam fazer o seu trabalho e exercer a sua Arte, com mestria, marimbando-se para as politiquices…

Análise mais sóbria me pareceu a de Alexandre Miguel Mestre (in Publico, 2014.01.07): “Eusébio abriu portas a outros, sendo um paradigma de emancipação de grandes futebolistas das províncias ultramarinas, que triunfaram em Portugal”. Apesar de a palavra “emancipação” ser insidiosa (aliás na linha de análise "científica" do artigo), convergindo com o vocabulário das “Nações Unidas” dos anos 60 (e anterior, haurido nos princípios da Internacional Comunista e conferência de Bandung, 1955): a tal “emancipação” dos povos. - Porque não dizer que o caso Eusébio foi antes o paradigma da “promoção” de grandes futebolistas das províncias ultramarinas? É que, pela lógica esquerdista, até nem “emancipou” nada: antes foram “aproveitados” pelo regime como forma de “propaganda”… Não se nega o que possam ter sido, mas não se poderá ver antes ,nesse fenómeno, o início do que ainda hoje são as transferências intercontinentais de jogadores (sobretudo no mundo do futebol), das mesmas origens (África) ou de outras (brasileiros, argentinos, mexicanos, etc.), para o futebol europeu, e, se calhar, qualquer dia, de modo inverso? (como de cá vão treinadores e jogadores para outros lados)?

Enfim, nem nos momentos de Luto, os baixos instintos da politiquice ronceira, mesmo (e sobretudo) sob a capa do intelectualismo, deixa de emergir… Sobretudo quando a vida e a conduta de um Homem lhes contraria os “clichés”…

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Post Scriptum: já depois de escrito e postado o nosso comentário, através de mão amiga chegámos a este outro post do blogue Corta-fitas: http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/5593182.html  - é sobre a opinião do sr. dr. Mário SóAres, ou D. Mário I, cognome: "o bochechas"... Converge com o que atrás foi dito, revelando uma má vontade de quem ainda não digeriu o facto do "simplório" não ter sido um glorioso anti-fascista, e, para mais, podendo ocupar (ou deslustrar) o lugar que o paquidérmico Matusalém espera vir a ocupar também no Panteão....