sábado, 30 de março de 2019

"Papel macio p'ró cu e roupa boa pr'á gente"

Mão amiga fez-nos chegar este escrito, que talvez já ande pela net há um par de anos, mas há coisas que não perdem actualidade, antes só se aprofunda a sua acuidade, com o espalhar de novas formas de miséria humana.

Assim, na "esteira" do velho Soeiro Pereira Gomes, aqui vos fica esta prosa dedicada a outros meninos que nunca foram meninos... Enquanto os meninos mimadinhos de hoje têm cada vez mais tudo facilitado e sempre de cu para a porta...


Do Mural de Lourdes dos Anjos

Quando os meninos  me pediam "papel macio pró cu e roupa boa prá gente"…
Um dos textos que mais me custou a  escrever e por isso tem mais
lágrimas do que palavras.


Estávamos ainda no século XX, no longínquo ano de 1968, quando a vida
me deu oportunidade de cumprir um dos meus sonhos: ser professora. Dei
comigo numa escola masculina, ali muito pertinho do rio Douro, na
primeira freguesia de Penafiel, no lugar de Rio Mau.
Era tão longe, da minha rua do Bonfim, não podia vir para casa no
final do dia, não tinha a minha gente, e eu era uma menina da cidade
com algum mimo, muitas rosas na alma, e tinha apenas 18 anos.

Nada me fazia pensar que tanta esperança e tanta alegria me trariam
tanta vida e tantas lágrimas.
 Os meninos afinal eram homens com calos nas mãos, pés descalços e um
pedaço de broa no bolso das calças remendadas.
As meninas eram mulheres de tranças feitas ao domingo de manhã antes
da missa, de saias de cotim, braços cansados de dar colo aos irmãos
mais novos, e de rodilha na cabeça para aguentar o peso dos alguidares
de roupa para lavar no rio ou dos molhos de erva para alimentar o
gado.

As mães eram mulheres sobretudo boas parideiras, gente que trabalhava
de sol a sol e esperava a sorte de alguém levar uma das suas cachopas
para a cidade, “servir” para casa de gente de posses.
Seria menos uma malga de caldo para encher e uns tostões que chegavam
pelo correio, no final de cada mês.

Os homens eram mineiros no Pejão, traziam horas de sono por cumprir,
serviam-se da mulher pela madrugada, mesmo que fosse no aido das vacas
enquanto os filhos dormiam (quatro em cada enxerga), cultivavam as
leiras que tinham ao redor da casa, ou perto do rio e nos dias de
invernia, entre um jogo de sueca e duas malgas de vinho que na venda
fiavam até receberem a féria, conseguiam dar ao seu dia mais que as 24
horas que realmente ele tinha. Filhos, eram coisas de mães e quando
corriam pró torto era o cinto das calças do pai que “inducava” … e a
mãe também “provava da isca” para não dizer amém com eles…

E os filhos faziam-se gente.
E era uma festa quando começavam a ler as letras gordas dum velho
pedaço de jornal pendurado no prego da cagadeira da casa…o menino já
lia.. ai que ele é tão fino… se deus quiser, vai ser um homem e ter
uma profissão!

Ai como a escola e a professora eram coisas tão importantes!
A escola que ia até aos mais remotos lugares, ao encontro das crianças
que afinal até nem tinham nascido crianças…eram apenas mais braços
para trabalhar, mais futuro para os pais em fim de vida, mais gente
para desbravar os socalcos do Douro, mais vozes para cantar em tempo
de colheitas.
E os meninos ensinaram-me a ser gente, a lutar por eles, a amanhar a
lampreia, a grelhar o sável nas pedras do rio aquecidas pelas brasas,
a rir de pequenas coisas, a sonhar com um país diferente, a saber que
ler e escrever e pensar não é coisa para ricos mas para todos, para
todos.

E por lá vivi e cresci durante três anos e por lá fiz amigos e por lá
semeei algumas flores que trazia na alma inquieta de jovem que julgava
conseguir fazer um mundo menos desigual.
E foi o padre António Augusto Vasconcelos, de Rio Mau, Sebolido,
Penafiel, que me foi casar ao mosteiro de Leça do Balio no ano de 1971
e aí me entregou um envelope com mil oitocentos e três escudos (o meu
ordenado mensal) como prenda de casamento conseguida entre todos os
meus alunos mais as colegas da escola mais as senhoras da Casa do
Outeiro. E foi na igreja de Sebolido que batizou o meu filho, no dia 1
de janeiro de 1973.

E é deste povo que tenho saudades. O povo que lutou sem armas, que
voou sem asas, que escreveu páginas de Portugal sem saber as letras do
seu próprio nome.
Hoje, o povo navega na internet, sabe a marca e os preços dos carros
topo de gama, sabe os nomes de quem nos saqueia a vida e suga o
sangue, mas é neles que vai votando enquanto continua á espera de um
milagre de Fátima, duns trocos que os velhos guardaram, do dia das
eleições para ir passear e comer fora, de saber se o jogador de
futebol se zangou com a gaja que tinha comprado com os seus milhões, e
é claro de ver um filmezito escaldante para aquecer a sua relação que
estava há tempos no congelador.

As escolas fecharam-se, os professores foram quase todos trocados por
gente que vende aulas aqui, ali e acolá, os papás são todos doutores
da mula russa e sabem todas as técnicas de educação mas deseducam os
seus génios, os pequenos /grandes ditadores que até são seus filhinhos
e o país tornou-se um fabuloso manicómio onde os finórios são felizes
e os burros comem palha e esperam pelo dia do abate.

Sabem que mais?!
Ainda vejo as letras enormes escritas no quadro preto da escola
masculina, ao final da tarde de sábado, por moços de doze e treze anos
com estes dois pedidos que me faziam: “Professora vá devagar que a
estrada é ruim, e não se esqueça de trazer na segunda-feira, papel
macio pró cu e roupa boa dos seus sobrinhos prá gente”.
Esta gente foi a gente com quem me fiz gente.

Hoje, não há gente… é tudo transgénico .
O povo adormeceu à sombra do muro da eira que construiu mas os
senhores do mundo, estão acordadinhos e atentos, escarrapachados nos
seus solários “badalhocamente” ricos e extraordinariamente felizes
porque inventaram máquinas e reinventaram novos escravos.
 Dizem que já estamos no século XXI...”

domingo, 10 de março de 2019

Putedo, Putaria & Cª., Ldª.

Bem, já em tempos o "Grande Educador da Classe Operária", recentemente falecido, havia proclamado que isto cá pela Aldeia Tuga "é tudo um putedo"!

E nessa boa e certeira  linha de análise, aqui vos fica esta definição de um conceito afim:

O QUE É UMA PUTARIA …
 
1.    PUTARIA é comparar a Reforma de um Deputado com a de uma Viúva [já foi há uns tempos, e se calhar já ninguém se lembra de quem o fez... - procurem no Google, sff]
 
2.    PUTARIA é um Cidadão ter que descontar 35 anos para receber Reforma e aos Deputados bastarem sómente 3 ou 6 anos conforme o caso e que aos membros do Governo para cobrar a Pensão Máxima só precisam do Juramento de Posse.
 
3.    PUTARIA é que os Deputados sejam os únicos Trabalhadores (???) deste País que estão Isentos de 1/3 do seu salário em IRS.
 
4.    PUTARIA é pôr na Administração milhares de Assessores (leia-se Amigalhaços) com Salários que desejariam os Técnicos Mais Qualificados.
 
5.    PUTARIA é a enorme quantidade de Dinheiro destinado a apoiar os Partidos, aprovados pelos mesmos Políticos que vivem deles.
 
6.    PUTARIA é que a um Político não se exija a mínima prova de Capacidade para exercer o Cargo (e não falamos em Intelectual ou Cultural).
 
7.    PUTARIA é o custo que representa para os Contribuintes a sua Comida, Carros Oficiais, Motoristas, Viagens ( sempre em 1ª Classe ), Cartões de Crédito.
 
8.    PUTARIA é que S. Exas. tenham quase 5 meses de Férias ao Ano (48 dias no Natal, uns 17 na Semana Santa mesmo que muitos se declarem não religiosos, e uns 82 dias no Verão).
 
9.    PUTARIA é S. Exas. quando cessam um Cargo manterem 80% do Salário durante 18 meses.
 
10.  PUTARIA é que ex-Ministros, ex-Secretários de Estado e Altos Cargos da Política quando cessam são os únicos Cidadãos deste País que podem legalmente acumular 2 Salários do Erário Público.
 
11.  PUTARIA é que se utilizem os Meios de Comunicação Social para transmitir à Sociedade que os Funcionários só representam encargos para os Bolsos dos Contribuintes.
 
12.  PUTARIA é ter Residência em Lisboa e Cobrar Ajudas de Custo pela deslocação à Capital porque dizem viver em outra Cidade.


Bem, estas são as "Putarias" e "Deputarias" conhecidas na Aldeia Tuga... - mas se olharmos à volta cá pela nossa Aldeia, bem, Putedo e Putarias não faltam, mas é melhor nem dizer nada, que os bufos e os pides andam por aqui à espreita (e têm de justificar a merenda).