quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ai o biganau!!!....

Ao vê-lo histérico na TV, confesso que os argumentos do homem até me convenceram (apesar de estar sempre de pé atrás quando pressinto virgens púdicas indignadas). Denunciava ele os tachos já distribuídos pelo Syriza, assim como a irresponsabilidade desse governo grego que não fazia o que tinha que fazer, ou seja as tais "reformas" (= pôr o povo a dar o litro como a chiba do Jaime e privatizar até a nuvem que passa, como dizia o Saramago, fora o resto que eu agora não cito). De caminho, foi passando um bocadinho a mão pelo povo grego, mas estando implícito que acha que são um povo de calaceiros...

 Afinal, a veemência, para não dizer a fúria, deste sr. Guy-não-sei-das-quantas (que averba no currículo o facto de ter sido primeiro-ministro da Bélgica), era resultante de um feroz despeito por os rapazes do Syriza lhe terem estragado os planos de negócio!

Enfim, mais um vampiro que estava a aguçar o dentinho para sugar algo em vias de privativação e a quem frustraram o intento...

Entendem agora o esquema?? - então é assim: 
1º. promover o endividamento através de crédito fácil; 
2º - gerar uma dívida impagável; 
3º - promover um governo fantoche e cúmplice das negociatas, cuja missão é desmantelar o Estado e vender os anéis... - a palavra de ordem passa a ser: "privatizar, privatizar!..." 
4º - é a hora dos vampiros, que ainda por cima se apresentam como "salvadores de pátrias" (como se o capitalismo selvagem tivesse pátria)...

O problema é quando surge um governo eleito que lhes baralha as contas!.... 
- Têm ataques de fúria, como este senhor (vá-se lá saber porquê...).

Aqui vos fica, com os cumprimentos do ti Zé:

In: "InfoGrécia", 2015.07.09:

Eurodeputado anti-Tsipras foi candidato às privatizações da troika na Grécia


Para ler tudo, clicar sobre este link:


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Carta do Júlio (e algumas bocas prévias do ti Zé):

Mão amiga, de um outro Zé, no caso a viver na cidade, mas sempre atento ao que se passa cá pela Aldeia, fez-nos chegar a carta do Júlio, que vai em baixo.

Sublinhámos a amarelo duas passagens:

1 - onde se expressa a suspeita de que esta Crise foi forjada para se implementar uma agenda neo-liberal - o que também defendemos há muito tempo...

2 - a referência a uma "solução final", ainda que o autor espera que assim não o seja - pois também já aqui o afirmámos, e também um dia em que tal ousámos dizer, para "escândalo" de uma "virgem (im)púdica", que contra-atacou com um pretenso insulto à memória dos judeus do Holocausto; mas logo vimos que tal tirada era uma mancha de tinta largada por um choco quando se sente tocado... foi só o caso de ir espreitar o Facebook do dito cujo e concluir que meses antes estivera num grande comício do Partido Republicano nos EUA!... Concluí que outrora havia uns rapazes que iam à URSS a mudar a cassete; agora há outros rapazes, lambidinhos e engravatados, que vão ao outro lado fazer o "upgrade" doutrinário... O mais caricato foi que a minha crítica tinha a ver com o plano de extermínio (em curso) da Função Pública; pois o mamão, obviamente concordando com tal extermínio, não é que estava num instituto público, como... "relações públicas"??? - E, aos depois, vim a saber que ascendeu a "public relations" de um desses rapazolas que chegaram a Secretários de Estado, por ínvios caminhos partidários. - Pois é verdade!.... A função pública é uma merda, mas não vejo esta rapaziada tão "empreendedora" a criarem empresinhas inovadoras, e a buscarem o tal sucesso à americana... Nada disso! lá andam eles, lampeiros (como diria o Pacheco P.), a pendurar-se na teta do Estado! - Que bem pregam estes S. Tomazes...

Mas, vamos lá à carta do Júlio:
 
Júlio Isidro - Não quero morrer sem...
eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.

 
NÃO, NÃO ESTOU VELHO!!!!!!

 
NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO  PARA  JÁ SABER TUDO!

 
Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.

 E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade.
 
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente,  ordenadamente, no respeito  das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e ….calar.

 
Sou dos que acreditam na invenção desta crise.

Um “directório” algures  decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.
 
Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.
 
Parece que  alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final.
 
Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência.

Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado  que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se.
 
Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro  entre os medicamentos e a comida.
 
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível.
 
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da multiplicação dos pães.
 
Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de  sair de casa,  suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se  de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores  de geração espontânea, mas 81.000  licenciados estão desempregados.
 
Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.
 
Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada”  faz um milhão de espectadores.
 
Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros.
 
Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.
 
Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas  há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados.
 
Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem...estar para ambas as partes.
 
Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho…
 
Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem?
 
E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.
 
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.
 
E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.
 
Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.

E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…

Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço.

E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome e envergonhadamente, matar a fome dos seus meninos.

É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.
 

Júlio Isidro